Dinâmica da zona de surfe de uma praia com recifes

Abstract

Ambientes praiais são sistemas costeiros energéticos de dinâmica acentuada. A maior parte da energia que adentra esses sistemas provém de ondas de vento, em particular, as ondas de gravidade nas faixas de frequência de ondulações e vagas. Praias arenosas são historicamente o foco de estudo de dinâmica costeira. No entanto, faz-se necessário compreender os processos de onda e a dinâmica de correntes costeiras em praias que possuem recifes naturais como feição morfológica marcante. As ondas incidentes, ao se propagarem sobre as barreiras de recifes, perdem parte de sua energia por atrito, pela arrebentação e ainda por transferência de energia para outros tipos de onda, como ondas de infragravidade e ondas super-harmônicas das ondas incidentes. A energia dispersada pela quebra das ondas também gera correntes costeiras, como as correntes de retorno, que são fortes, estreitas e direcionadas da praia para o mar, que podem ocorrer de maneira permanente em depressão topográfica natural. No dia 21 de Novembro de 2014 foi realizado um experimento de campo na Praia de Boa Viagem, PE, uma praia parcialmente fechada por linhas de recifes sob regime de meso-maré semi-diurna. Foram utilizados no experimento de campo 3 perfiladores acústicos coletando perfis de velocidade e pressão da coluna d’água e quatro derivadores lagrangeanos equipados com GPS, lançados de meia em meia hora. Os derivadores simulam seres humanos em forma, peso e flutuação. Um único perfilador permaneceu em campo até o dia 24. A velocidade média da componente transversal da corrente de retorno foi de 0,23 m/s em direção ao mar. A maior velocidade média horária encontrada foi 0,52 m/s durante a baixa-mar e a menor velocidade foi próxima a zero durante a preia-mar. As médias horárias foram direcionadas ao mar a cada hora. Apenas um lançamento com derivadores percorreu a trajetória da corrente, momento em que também foi identificada circulação em célula retornando o derivador para a corrente de retorno. As velocidades vetoriais médias registradas no pescoço da corrente foram 0,24 e 0,48 m/s A partir de espectros de elevação foi encontrada dominação da incidência de ondas por ondulações de 12 s de período médio. A altura de onda significativa foi fortemente modulada por maré no local do recife interno e na parte protegida pelo mesmo. Foram identificadas também ondas de infragravidade de período de 28 s e transferência de energia do pico incidente para ondas super-harmônicas.