A (im)polidez como mecanismo de (des)organização na interação em jogos eletrônicos on-line

Abstract

Ao longo das últimas três décadas, vem se ampliando cada vez mais a importância das interações digitais na internet no dia a dia das sociedades atuais. Dentre todas as esferas de linguagem do mundo digital hodierno, o universo dos jogos digitais on-line vem assumindo lugar de destaque, especialmente na vida das gerações mais recentes. Partindo de um interesse particular nas produções linguísticas realizadas em situações de conflito e/ou hostilidade entre os usuários de ambientes digitais on-line, este trabalho teve como interesse primordial compreender, sob o enfoque teórico-epistemológico dos estudos da (im)polidez, o funcionamento da interação entre múltiplos jogadores em jogos eletrônicos on-line. Sob esse enfoque, objetivou-se identificar, descrever e analisar como, em partidas de jogos eletrônicos on-line, os participantes da interação elaboram estratégias coletivas em time por meio dos mecanismos de polidez e impolidez, no âmbito de situações de tensão relacional. Foi empregada uma metodologia qualitativa-interpretativista, amparada nos princípios teórico-epistemológicos da Etnometodologia, da Análise da Conversação e da Sociolinguística Interacional. Por meio de gravação de áudio e vídeo (da tela do jogo), foram coletadas e analisadas três partidas em dois jogos eletrônicos diferentes, isto é, seis partidas no total. A escolha dos dois jogos, League of Legends (LoL) e Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO), se deu pelo fato de serem concebidos, nesta pesquisa, como os dois mais representativos no universo dos jogos de “competição” entre equipes, o que possibilitou diversificar os dados. As análises dos dados indicaram como resultado que os papéis específicos desempenhados por cada jogador os influenciam a escolherem certos mecanismos de polidez e impolidez específicos, cujos usos são (ou não) legitimados e/ou ratificados pelos participantes a depender da observância e do cumprimento adequado desses papéis. Tais papéis e funções comuns são requeridos/esperados de modo mais incisivo em momentos prototípicos de tensão relacional, em fases da partida regularmente categorizadas pelos jogadores como mais decisivas, perigosas, delicadas etc. Ao tensionar funções e papéis em situações potencialmente conflituosas, os interactantes foram compelidos a elaborar estratégias de manutenção da harmonia na interação.