Uma Imersão na maré para além das cercas : as representações sociais da Unidade de Conservação Parque dos Manguezais, Recife-PE

Abstract

A criação de áreas protegidas desponta como a principal e mais recorrente política de conservação da natureza desenvolvida no século XX. Integra uma visão dicotômica, entre o que se compreende como natural e o humano, proveniente principalmente de uma visão mítica e romântica que valora a natureza pelo seu caráter de intocabilidade. Dentro desta questão, se insere esta investigação, problematizando como este modelo de salvaguarda influi para a dissociação de determinadas populações de seu meio circundante. Para tal, adentra na questão da conservação do que se compreende por natureza em contexto urbano, notadamente os fragmentos florestais instituídos enquanto unidades de conservação (UC) por legislação municipal. Tem-se como objeto de estudo, o Parque dos Manguezais, UC da cidade do Recife que se caracteriza como um dos maiores representantes urbanos de ecossistema de manguezal no Brasil. A este remanescente estão associadas comunidades ribeirinhas pesqueiras, cujas atividades lastreiam suas identidades e senso comunitário. Através do aporte teórico-metodológico da teoria das Representações Sociais, proposta por Moscovici, no campo da psicologia social, foi possível imergir dentro das realidades e dinâmicas destes agrupamentos. Para tal, foram realizadas 42 entrevistas semiestruturadas, em oito comunidades localizadas no entorno da Unidade de Conservação, cujo material transcrito foi analisado por meio do software Iramuteq, afim de se compreender as diversas representações sociais elaboradas por estes agrupamentos. Com base nas análises, foi possível discutir como diferentes comunidades se relacionam com o ecossistema e como as atividades de subsistência, em especial a pesca, atuam como fortes balizadoras das representações nessas localidades. Por fim, confrontou-se as representações com os Planos de Manejo de UC’s do Recife, identificando que estes ainda incorrem no erro histórico e dissociativo entre o que se considera como natureza e humano, fator pelo qual se engendram os conflitos de ordem social e cultural que, paulatinamente, suprimem os remanescentes de ecossistema e as identidades socioculturais de comunidades em território urbano.