Conservação e métodos alternativos: nanotecnologia na desacidificação de bens culturais em suporte papel

Abstract

O processo de degradação de bens culturais em suporte papel está relacionado, entre outras causas, à alteração do pH. A acidificação do papel é provocada por reações de hidrólise ácida, um conhecido mecanismo de degradação da celulose que ocorre através da ação conjunta da água e substâncias ácidas, presentes no suporte e/ou ambiente. Para conservação da integridade física de bens culturais em suporte papel, faz-se necessário a neutralização/ estabilização deste processo por profissionais da conservação, entre eles museólogas (os), a fim de garantir o acesso à informação às gerações presentes e futuras. Dentre as técnicas tradicionais de desacidificação do papel, destaca-se o banho alcalino, um tratamento aquoso por imersão em hidróxido de cálcio, conhecida substância básica que, no entanto, apresenta algumas limitações, principalmente no que concerne a suportes muito fragilizados e/ou com pigmentos sensíveis à água. Nesse sentido, pesquisas vêm sendo desenvolvidas metodologias alternativas de desacidificação, destacando-se a aplicação de nanopartículas de hidróxido de cálcio. Este trabalho tem como objetivo estudar um método alternativo de desacidificação de acervos em papel, utilizando nanopartículas de hidróxido de cálcio sintetizadas em laboratório, em uma adaptação de metodologias encontradas na literatura. Do ponto de vista metodológico, trata-se de estudo de abordagem mista, exploratório e explicativo, que parte de um levantamento bibliográfico sobre o uso da nanotecnologia em diferentes campos do conhecimento e sua aplicação na conservação de bens culturais, em especial em acervos em suporte papel. Posteriormente, foram investigadas algumas das metodologias de síntese de nanopartículas de hidróxido de cálcio para compreensão das condições reacionais, a fim de adaptá-las para sua produção em laboratório. O material obtido da síntese foi aplicado no tratamento de desacidificação de uma gravura. A partir dos resultados oriundos da análise de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) com Espectroscopia de Energia Dispersa de Raio-X (EDS), estimou-se a composição química e hábito do materia micro e nanoparticulado. Com a medição do pH, observou-se o aumento do pH do suporte após tratamento, ratificando assim a eficácia do adaptação metodologica. O uso da nanotecnologia como alternativa na desacidificação de papel demonstra a importância da interdisciplinaridade na conservação de bens culturais, em especial o diálogo entre Museologia e Química.