Discursos de docentes de matemática da educação básica sobre gênero.

Abstract

A discussão sobre as relações de gênero é tema atual de pesquisas em diversas áreas das ciências humanas e sociais. Porém, quando trazemos esse debate para o campo das ciências exatas, em especial a Matemática, poucos são os trabalhos que discutem essas duas áreas. Os estudos neste campo apontam para a baixa produção acadêmica envolvendo ambas as áreas e a falta de interesse de estudantes para o tema. Estes fatos ressaltam a necessidade de pesquisas que aprofundem o conhecimento sobre estas questões. Este trabalho tem como objetivo conhecer os discursos sobre gênero e matemática dos docentes de matemática da educação básica de uma cidade do interior do Estado de Pernambuco (PE). Este objetivo divide-se em dois objetivos específicos: primeiro identificar os principais discursos sobre gênero e sexualidade elaborados pelos/as docentes e segundo verificar se os/as docentes tiveram formação nesse campo de estudo. Esta pesquisa é do tipo qualitativa e seu corpus foi constituído por transcrições de entrevistas do tipo semiestruturada, com dois docentes da matemática da educação básica da cidade de Camocim de São Félix – PE. A análise de dados desenvolvida foi de caráter exploratório e descritivo, o que nos permitiu ter uma visão geral da questão estudada. Observamos que ambos os docentes não possuíam formação específica na área de gênero e também que a presença feminina na matemática é vista, ainda, com resistência, estranheza e até mesmo com discriminação, tanto por colegas de profissão, como por estudantes. Além disso, a forma como é descrita uma professora e um professor de matemática são totalmente diferentes, elas são descritas como mais exigentes, afetivas e detalhistas enquanto eles são vistos como mais flexíveis e menos afetivos. Apesar da matemática ser hegemonicamente vista como um campo de atuação masculina, ambos entrevistados reconhecem que houve um aumento da presença e atuação feminina nesta área, especialmente nas licenciaturas. Tal aumento juntamente com as demais performances de gênero e políticas públicas/educacionais de equidade de gênero e direitos LGBT corroboram com a desconstrução do carácter masculino da matemática e constituição de uma matemática mais crítica no cotidiano das instituições de ensino.