Leitura subjetiva e performance de ficções assombrosas : uma experiência com estudantes do sexto ano do Ensino Fundamental

Abstract

Face ao desinvestimento na leitura literária percebido a partir do 6o ano do Ensino Fundamental, conforme revelam os dados da última edição da pesquisa Retratos da leitura no Brasil, à predileção pela ficção assombrosa em Pernambuco e à ausência desta no livro didático nós nos perguntamos como poderíamos partir deste modo literário correspondente ao horizonte de expectativa dos estudantes em sala de aula para contribuir com sua formação leitora. Nossa hipótese é que a leitura subjetiva de ficções assombrosas atravessada pela performance do professor pode implicar o sujeito leitor em atividades de leitura literária, possibilitando-lhe uma reapropriação do texto literário. Assim, esta pesquisa-ação foi desenvolvida com o objetivo de contribuir com a formação do sujeito leitor implicando-lhe em uma autonomia de leitura literária através da performance de ficções assombrosas à luz da leitura subjetiva. Para isso, desenvolvemos atividades de pré-leitura, leitura e pós-leitura dos contos Lata estampada, de Roberto Beltrão, O cavalo fantasma da estrada do Engenho Barbalho, de Jayme Griz e Um lobisomem doutor, de Gilberto Freyre, para encorajar a produção do texto do leitor no diário de leitura a partir acolhimento das emoções desencadeadas na leitura do texto literário num sentido de implicação do sujeito leitor. Nestas atividades, por apostarmos na importância da fomentação do desejo de ler que pode surgir por meio de uma mediação entre texto e leitor na concretização de uma experiência de leitura, levamos em consideração a reverberação de sentidos do texto no corpo do sujeito leitor, ressaltando a exploração da corporeidade das palavras pela aproximação de seu campo performático para ampliar consideravelmente a implicação do sujeito leitor. Por fim, analisamos o que diziam os textos dos leitores sobre a maneira como a experiência de leitura dos contos pernambucanos de ficção assombrosa poderiam implicar o sujeito leitor em uma autonomia de leitura literária, possibilitando-lhe uma reapropriação do texto lido através da performance tanto durante a leitura silenciosa quanto durante a leitura em voz alta a partir das seguintes categorias de análise: 1) vocabulário rico de expressão de sentimentos em relação ao texto; 2) Empatia/identificação do leitor com as situações vividas pelos personagens; 3) Indícios do efeito da performance na leitura silenciosa e na leitura em voz alta; 4) Emoções despertas e relação com o prazer/desejo de ler. Baseamos esta pesquisa em Todorov (2004), Lovecraft (2007), Roas (2014) e Sena (2015) para o fantástico; em Rouxel (2013; 2018; 2019), Jouve (2002; 2012; 2013), Langlade (2013) e Xypas (2018) para as teorias da leitura subjetiva e do sujeito leitor; em Petit (2009; 2010;2013) para mediação literária; em e Le Breton (2016) Rouxel (2018) Zumthor (2018) e Kefalás (2012) para sentidos, corpo e performance; em Genette (2009) e Xypas (2015) para elementos paratextuais e pré-leitura; em Machado (1998) e Xypas (2018) para diários de leitura e categorias de análise das marcas da subjetividade do leitor. Nossa hipótese foi confirmada tanto pela implicação dos estudantes na leitura de ficções assombrosas, chegando à explicitação de empatia e alteridade, quanto pelo empenho do corpo na performance durante a leitura dos textos.