Enactment em processos de organizar : lições da convivência com o Semiárido brasileiro, numa abordagem da prática

Abstract

Especialmente a partir dos anos 2000, a noção de Convivência com o Semiárido Brasileiro (CSab) tornou-se mais presente nos debates públicos quanto ao problema hídrico da parte semiárida do Brasil. Além disso, a CSab também passou a permear importantes programas públicos que envolvem a segurança hídrica de famílias rurais naquela região. A partir da evidência empírica de que a CSab compreende práticas bastante singulares, a presente pesquisa se propôs abordar os processos de organizar naquele campo, enfatizando as particularidades ontológicas que eles apresentam. Lançamos mão da Teoria do Ator-Rede (TAR) como lente teórico-analítica, numa abordagem do campo a partir das práticas que o constituem. Uma pesquisa de orientação etnográfica foi desenvolvida entre os meses de fevereiro/2017 e junho/2018 e os dados produzidos foram analisados mediante uma adaptação do dispositivo da Preposição, proposto por Bruno Latour. Os achados trazidos à discussão indicam que o campo de práticas pesquisado enacta à realidade, de modo bastante próprio, elementos diversos como água, solos, pastagens, animais, reservatórios de recursos hídricos, agricultores e profissionais especializados, dentre outros. A partir das distinções ontológicas com que esses atores são performados nas práticas, o campo registra processos de organizing igualmente singulares. Essas constatações advindas da pesquisa empírica são, então, discutidas como aprendizados na tarefa de desenvolver maneiras renovadas para abordar processos de organizar em suas peculiaridades, permitindo compreendê-los em suas distinções qualitativas. Assim, enquanto pesquisas com base na TAR geralmente limitam-se a tratar do organizing enfatizando a composição de coletivos híbridos, esse texto propõe avançar sobre o terreno das particularidades ontológicas que as práticas conferem aos processos de organizar.