Relações nictimerais em sub-mesoescala entre a hidrodinâmica e a biota do talude oceânico de Tamandaré-PE

Abstract

A dinâmica dos organismos em um ecossistema é extremamente complexa e envolve, além de interações tróficas, respostas às variações ambientais em diferentes escalas de tempo e espaço. Soma-se a isso a dinâmica das correntes de borda oeste interagindo junto ao talude, que eleva a complexidade das respostas dos organismos marinhos. O presente trabalho teve como objetivo investigar os processos hidrodinâmicos atuantes no talude oceânico em frente ao Município de Tamandaré (Pernambuco) observados em submesoescala, e determinar sua influência sobre a distribuição de organismos vivos em um período nictimeral. Foram utilizados os dados de hidroacústica, correntes, salinidade e temperatura da superfície do mar registrados durante a execução de 15 transectos do tipo “quadrado mágico” (~26 horas) na campanha ABRAÇOS 2 (Acoustics along the BRAzilian COaSt), além de estações de XBT e CTD. Para investigar as questões de interesse, foram utilizados os métodos Decomposição de Modo Empírica em conjunto e Correlação intrínseca dependente do tempo. A combinação desses métodos com observações descritivas forneceu uma grande quantidade de informações acerca da dinâmica na quebra da plataforma/talude e sua influência sobre a distribuição dos organismos. Os processos hidrodinâmicos dominantes foram associados à forçante de maré e propagação de ondas internas devido à interação da Subcorrente Norte do Brasil com a topografia. Esses processes influenciaram a estratificação da coluna d’água através da fragmentação da termoclina. Foram identificadas influências diretas e indiretas da hidrodinâmica na distribuição dos organismos ao longo da coluna d’água na região do talude. A influência direta foi evidenciada nos primeiros metros e em profundidade em momentos distintos, revelando uma certa característica nictimeral. Durante a noite, nos primeiros metros, os organismos evitam regiões com correntes resultantes de onda internas. Em profundidade, durante o dia, provavelmente os mesmos organismos que evitam as correntes, buscam abrigo em camadas com menores intensidades de correntes. Contudo, ainda se faz necessária uma ferramenta estatística robusta que considere a forma dos perfis verticais acústicos para comparação com as correntes. Em futuras investigações, a extração de grupos específicos de organismos permitirá um maior refinamento na descrição das respostas à hidrodinâmica em diferentes classes e tamanhos e ao longo da cadeia trófica.