Profissionais de saúde em contextos indígenas : uma perspectiva antropológica

Abstract

Através de uma abordagem antropológica e de um diálogo muito próximo ao campo da Saúde Coletiva, analiso nesta dissertação como profissionais de saúde que atendem povos indígenas em Pernambuco compreendem as relações entre as medicinas indígenas e a biomedicina. Inspirando-me em referências como Esther Jean Langdon, Luiza Garnelo, Carla Teixeira, Pedro Paulo Gomes Pereira, Maj-Lis Fóller e Maria Cecília Souza Minayo, proponho um olhar antropológico em direção às experiências cotidianas de profissionais de saúde que atuam no atendimento a populações indígenas. O trabalho de campo foi desenvolvido ao longo do ano de 2018 a partir de entrevistas e do acompanhamento da rotina de profissionais que compõem Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI) de postos de saúde indígena e polos base da região do sertão de Pernambuco. A partir de categorias como intermedicalidade, reflexividade e competência cultural, elaboro análises sobre as narrativas e rotinas dos profissionais de saúde de modo a percebê-las circunscritas aos contextos e percursos histórico-políticos da atenção à saúde indígena no Brasil. Analiso também as relações entre os profissionais de saúde e povos indígenas e entre as medicinas indígenas e biomedicina. Os profissionais relatam que vivenciam rotinas de trabalho exaustivas. Eles também colocam que mesmo conhecendo as diretrizes da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígena (PNASPI), não se sentem plenamente preparados para lidar com uma proposta de articulação entre medicinas e atenção à saúde diferenciada. Do ponto de vista analítico, compreendo que os profissionais estão inseridos em um contexto de intermedicalidade e têm percepção sobre isso apesar de não utilizarem esse conceito. A partir das narrativas dos interlocutores, compreendo que o aprendizado sobre a saúde dos povos indígenas se dá de fato no cotidiano de trabalho. E é nesse cotidiano que os profissionais se deparam com situações de limites, encontros, diálogos entre suas compreensões sobre os processos de saúde e doença e, consequentemente, sobre as relações entre as medicinas indígenas e a biomedicina.