Efeitos da estimulação magnética transcraniana repetitiva associada a terapia sensorial do membro superior parético de pacientes pós acidente vascular encefálico: análise clínica e neurofisiológica

Abstract

Estudos apontam para o benefício da associação da Estimulação Magnética Transcraniana repetitiva aplicada no córtex motor primário com terapias motoras na recuperação funcional de pacientes após Acidente Vascular Encefálico (AVE). No entanto, o efeito da associação da rTMS aplicada no córtex somatossensorial primário (S1) com estimulação somatossensorial periférica (ESP) sobre a recuperação da estrutura/função sensório-motora do membro superior e atividade/participação destes pacientes ainda não foi esclarecido. Este estudo objetivou investigar se o efeito da associação da rTMS com a ESP é superior ao efeito das terapias isoladas sobre a função sensório-motora do membro superior parético e atividade/participação de pacientes pós AVE. Quarenta pacientes foram alocados aleatoriamente em quatro grupos: rTMS/ESP sham (n=10; idade: 62,6±7,9); rTMS sham/ESP (n=10; idade: 62,1±11,4); rTMS/ESP(n=10; idade: 62.6±7.8) e grupo controle (rTMS sham/ESP sham) (n=10; idade: 61,6±11,3). Os pacientes foram submetidos a 10 sessões diárias de rTMS ativa (10Hz, 1500pulsos, 120% do limiar motor de repouso, 20min) ou sham seguidas por ESP (ativa ou sham). A ESP consistiu da combinação de três métodos de estimulação sensorial periférica: treino sensorial ativo, a terapia de espelho e a estimulação elétrica transcutânea aplicada no membro superior parético (ESP ativa) ou no membro superior não-parético (ESP sham). Antes e após as sessões, os pacientes foram submetidos a avaliações clínicas e neurofisiológicas. Para as avaliações clínicas foram aplicados instrumentos para os domínios da CIF. Para o domínio Estrutura e Função, foram usadas à Escala de Fugl-Meyer do membro superior (FM-MS motora e sensorial) e Avaliação Sensorial de Nottingham. Para o domínio Atividade/Participação, os testes Box and Block (BBT), o Jebsen Taylor Hand Function test (JTT); a Medida de Independência Funcional (MIF) e a Motor Activity Log (MAL-qualitativa e quantitativa) foram aplicados. Como medidas neurofisilógicas, o Potencial Evocado Motor (PEM) no córtex motor primário do hemisfério lesado e o Potencial Evocado Somatossensorial (PESS) de ambos os hemisférios foram realizados para avaliar a excitabilidade do córtex motor e sensorial, respectivamente. Com relação ao domínio Estrutura e Função, os resultados da FM-motora revelaram um aumento da função motora para todos os grupos, exceto para o grupo controle (x2 =12,7; p<0.005). A FM-sensorial demonstraram um aumento da função sensorial apenas para os grupos que foram submetidos a ESP (rTMS sham/ESP e rTMS/ESP). No domínio Atividade e Participação, os resultados das medidas (JTT, MIF e MAL) apontaram para um maior aumento da funcionalidade dos pacientes submetidos as terapias associadas (rTMS/ESP). Para todos os domínios da CIF, o tamanho de efeito no grupo rTMS/ESP foi superior aos demais grupos experimentais (rTMS sham/ESP e rTMS/ESP sham). As análises neurofisiológicas demonstraram que os grupos submetidos às terapias sensoriais (rTMS ou ESP e rTMS/ESP), mas não o grupo controle, diminuíram a assimetria da excitabilidade do córtex sensorial entre os hemisférios lesado e não-lesado. No entanto, apenas o grupo submetido a ambas terapias (rTMS/ESP) aumentou a excitabilidade do córtex motor. Em conclusão, as avaliações clínicas e neurofisiológicas apontam para uma superioridade dos efeitos produzidos pela associação das rTMS com a ESP quando comparado com os efeitos da aplicação de cada terapia isolada.