Os usos do livro didático na educação infantil : uma análise da construção de práticas de ensino de leitura e escrita

Abstract

Esta pesquisa teve como objetivo principal investigar os usos de um livro didático na construção de práticas de ensino de leitura e escrita, desenvolvidas por professoras que atuavam no último ano da Educação infantil. Apoiamo-nos, principalmente, em Soares (1998; 2018), Brandão e Leal (2010) e Ferreiro (2010) no tocante à discussão sobre práticas de leitura e escrita na Educação infantil, considerando que essa etapa da educação básica não tem o propósito de garantir que todas as crianças leiam e escrevam com autonomia. Contudo, acreditamos ser fundamental proporcionar diferentes situações de uso e de reflexão sobre a leitura e a escrita, de maneira lúdica e prazerosa. Tecemos, também, considerações sobre saberes docentes no cotidiano da sala de aula, frente aos usos de livros didáticos e outros recursos, a partir das contribuições de Certeau (1998), Tardif (2014) e Chartier (2002; 2007). Participaram deste estudo duas professoras que atuavam nos anos finais da Educação infantil, na rede municipal de Santa Cruz do Capibaribe-Pernambuco. Como procedimentos metodológicos, utilizamos a observação participante de aulas, aplicação de questionário com as docentes e análise documental de atividades relativas à leitura e à escrita sugeridas pelas professoras, tendo como suporte o livro didático, o caderno e fichas de atividades avulsas. No âmbito da análise dos dados, recorremos à análise de conteúdo, segundo Bardin (1977). Os dados revelaram que o livro didático não constituía o único recurso mobilizado na construção das práticas de ensino das docentes, pois elas também sugeriam atividades utilizando outros materiais, como cadernos, fichas de atividades coladas nos cadernos das crianças e fichas de atividades avulsas. Além disso, tais materiais tiveram maior frequência de uso que o livro didático. Nesse sentido, embora as professoras tivessem proposto poucas atividades do livro didático, notamos que as crianças realizaram muitas atividades com lápis e papel, se considerarmos também o uso dos outros suportes. No caso da professora 1, observamos também o uso de livros e de textos literários, a partir dos quais foram exploradas algumas estratégias de compreensão leitora, principalmente a localização de informações explícitas e conhecimentos relacionados ao sistema de escrita alfabética. Já a professora 2 recorreu a outro livro didático para extrair uma das atividades relativas à leitura e à escrita que propôs à sua turma, além de ter feito uso de cadernos com atividades escritas à mão. Por meio desta pesquisa, percebemos que os modos pelos quais as docentes utilizavam os diversos recursos didáticos estavam relacionados aos seus saberes-fazeres. Outrossim, compreendemos que, mesmo diante de materiais prescritivos, como é o caso de livros didáticos, os professores, muitas vezes, alteram as propostas apresentadas ou até mesmo as ignoram, por não atenderem às suas expectativas e objetivos.