Eficácia da mobilização articular e da cinesioterapia na funcionalidade das mãos de pacientes com esclerose sistêmica : ensaio clínico controlado e randomizado

Abstract

A esclerose sistêmica (ES) é uma doença rara, autoimune e crônica que é caracterizada por disfunção vascular e aumento da fibrose na pele e órgãos. Apresenta importante comprometimento da funcionalidade das mãos decorrente do espessamento da pele e dos tecidos subjacentes. Para tratamento, podemos utilizar a mobilização articular e a cinesioterapia com fim de recuperação e manutenção da capacidade física. O objetivo desse estudo foi avaliar a eficácia da mobilização articular e da cinesioterapia na funcionalidade das mãos em pacientes com ES, assim como analisar o efeito na incapacidade, força de preensão, dor, qualidade de vida e amplitude de movimento. Esse estudo consistiu em um ensaio clínico randomizado, controlado e cego para o avaliador e estatístico. Foram considerados como critérios de inclusão: diagnóstico de ES (critérios do ACR/EULAR 2013), idade ≥ 18 anos e pontuação na escala de funcionalidade Cochin Hand Funcional Scale (COCHIN) ≥10. Critérios de exclusão: superposição com doenças reumatológicas, doenças escleroderma-like, artrite aguda, miosite ou úlceras nas mãos em atividade, amputação dos dedos, fisioterapia nos últimos três meses ou impossibilidade de comparecer às sessões de tratamento. O desfecho primário foi a funcionalidade avaliada pela escala de COCHIN. Desfechos secundários: incapacidade (Scleroderma Health Assessment Questionnaire-SHAQ), dor (escala visual analógica), mobilidade (Modified Hand Mobility in Scleroderma- HAMIS e Delta finger-to-palm-DFTP), força de preensão, qualidade de vida (SF12), efeitos colaterais e percepção global de mudança (PGIC). Os dados foram analisados segundo a intenção de tratar. A estatística foi realizada através de medidas de tendência central e medidas de dispersão para as variáveis quantitativas e frequência (percentagem) para as variáveis qualitativas. Todos os testes foram aplicados com 95% de confiança. Foram incluídos 24 pacientes, os quais foram randomizados e alocados para o Grupo Fisioterapia (GF) ou Grupo Controle (GC). O GF realizou durante 12 semanas, 2 vezes na semana por 60 minutos, um protocolo criado pelos pesquisadores de mobilização articular do conceito Maitland e cinesioterapia com exercícios ativos livres e resistidos, e recebeu uma cartilha com informações sobre a ES. O GC somente recebeu a cartilha informativa. Os dois grupos foram avaliados antes e ao fim das 12 semanas. Em comparação com o GC, o GF mostrou uma diminuição de 11,33 pontos no COCHIN, uma diferença considerada clínicamente importante, embora estatísticamente não significante. Foi verificado aumento significativo na amplitude de movimento pelo HAMIS (d=1,1; p=0,01), redução significativa da dor pela EVA (d=1,6; p=0,001) e aumento do componente físico do SF-12 (d=0,6, p=0,04). Na percepção global de mudança, 72,7% dos pacientes do GF relataram melhora considerável, enquanto 41,6% do GC informaram sem alterações. Os efeitos adversos relatados pelo GF não foram graves, sendo a fadiga nas mãos após os exercícios e presença de dor que desapareceram após a 6º e 7ª semana de intervenção. Conclui-se que o protocolo de mobilização articular de Maitland e a cinesioterapia promoveram melhora da funcionalidade das mãos, redução da dor nas mãos e punhos, aumento da amplitude de movimento e melhora da qualidade de vida em pacientes com ES.