Sobre política, ética e afeto : emergência e negociações do protagonismo religioso no Brasil

Abstract

Nesta tese, apresento e conceituo o que chamo de protagonismo religioso no Brasil. Assim, discuto como as formas não-hegemônicas de visibilidade cristã estão desenvolvendo uma agenda política progressiva, uma ética e uma gramática afetiva da presença pública. É também um trabalho sobre como é possível apreender a reprodução e a dinâmica simbólicas que garantem a legitimidade desses agentes não hegemônicos. Entendo que o protagonismo religioso é um fenômeno típico dos fluxos comunicativos da Internet, aplicando uma comparação de como a liderança religiosa televangelista tradicional e hegemônica, por sua vez, é típica da ordem de transmissão da mídia. Enquanto essa liderança televangelista se apóia no carisma, o protagonismo religioso é impulsionado por uma competência afetiva que mobiliza uma presença performativa no espaço público (online e offline). Argumento que as formas de reprodução simbólica em relação ao protagonismo religioso não apenas abraçam novas formas de manifestação no espaço público, mas também exigem uma posição antagônica contra o cristianismo atual, que é carismático e difundido (tanto em aspectos católicos quanto evangélicos). Há uma visibilidade específica para os sujeitos do protagonismo, cuja principal proposta é se apresentar como figuras religiosas progressistas, “forasteiras” do auditório televangelista brasileiro e seus padrões morais, movidas não pelo carisma, mas pela mobilização de afetos como esperança / medo e amor. Este trabalho tem como objetivo discutir com precisão o status e os efeitos dessa visibilidade, sobre como o protagonismo religioso seria capaz de negociar, juntamente com questões teológicas, novos limites para a sensibilidade secular moderna. Além disso, também avança nos estudos sobre os afetos como um capital fundamental para a realização de novas formas de autoridade religiosa na Era da Internet. Uma discussão urgente, especialmente no contexto latino-americano, em que o projeto carismático cristão (e, portanto, radiodifusão) encontrou crescimento significativo, legitimidade e força política.