Relação entre clusters comportamentais e o senso de coerência na saúde bucal de adolescentes

Abstract

Na adolescência, a compreensão sobre comportamentos relacionados à saúde é particularmente relevante, visto que esses indivíduos são mais vulneráveis aos agravos sociais e de saúde. Nesse período, é comum que diferentes comportamentos, tanto de cunho protetor quanto de risco, aconteçam de maneira agrupada. Contudo, ainda não há evidência acerca dos padrões de agrupamento de comportamentos saudáveis e sua relação com a saúde, bem como se esses padrões podem variar de acordo com fatores psicossociais, como o senso de coerência (SOC). Portanto, este estudo pretendeu avaliar, em adolescentes, o papel da aglomeração de comportamentos benéficos à saúde e a sua relação com o SOC como fator protetivo na experiência de cárie e doença periodontal. É um estudo transversal, de banco de dados secundário, integrante da segunda etapa do levantamento das condições de saúde bucal e psicossociais dos escolares de 14 a 19 anos do Município de São Lourenço da Mata – Pernambuco. Realizado com 1.154 adolescentes de ambos os sexos. Foram avaliados dados sociodemográficos, comportamentais e o SOC, coletados por meio de questionários autoaplicados. Já as condições bucais, pelo exame clínico. Foram realizadas correlações pareadas entre os comportamentos saudáveis, e o agrupamento foi avaliado pela Análise de Cluster Aglomerativo Hierárquico (HACA), utilizada para identificar soluções de cluster estáveis. Em seguida, a simultaneidade de comportamentos saudáveis foi determinada pelo somatório da exposição dos adolescentes a cinco comportamentos benéficos (frequência de escovação dentária regular; consulta odontológica há menos de 1 ano; alto consumo de frutas e hortaliças; baixo consumo de açúcar; e não fumar). Os dados foram analisados de maneira descritiva (frequência simples, medidas de variabilidade e tendência central) e analítica (Qui-Quadrado para comparação de proporção, Quiquadrado para independência, Teste Exato de Fisher, Regressão logística), tomando em consideração o nível de significância de 5,0%. Na primeira etapa, sobre a análise de cluster, os resultados mostraram a formação de dois clusters comportamentais. O primeiro correspondeu a aglomeração de não fumar, não ingerir bebidas alcoólicas, frequência de escovação dentária regular e ida ao dentista há menos de 01 ano, enquanto o segundo incluía baixo consumo de pão, massas e salgados, baixo consumo de açúcares, alto consumo de frutas e hortaliças e baixo consumo de refrigerante. Os comportamentos positivos associaram-se entre si e agruparam-se em dois padrões específicos; um cluster reuniu uma combinação de adoção de práticas preventivas, enquanto o outro representou um estilo de vida saudável; Na segunda fase, destacam-se os achados: a) a chance de apresentar dois ou mais comportamentos saudáveis foi maior para adolescentes com maior SOC e escolaridade; e b) o SOC, apesar de estar associado à combinação de comportamentos, não conseguiu moderar esta relação na prevenção da cárie. Quanto a doença periodontal, foi encontrada associação significativa com o comportamento isolado, porém, não com a combinação comportamental ou o SOC. Concluiu-se que o SOC não modera a associação entre a aglomeração de comportamentos benéficos e a saúde bucal, porém, a sua relação com a combinação de comportamentos saudáveis existe, o que leva a novas indagações para que seja melhor investigado em novas pesquisas.