Homens e a divisão sexual das práticas de cuidado com crianças : uma análise a partir da perspectiva feminista

Abstract

O objetivo deste estudo foi analisar a produção de sentidos sobre cuidados com crianças de homens pais. Seus objetivos específicos foram: 1) Identificar experiências cotidianas de cuidado, no contexto doméstico; 2) Analisar posicionamentos dos homens pais, em relação à divisão no cuidado com crianças entre eles e outras mulheres; 3) Analisar, a partir das práticas discursivas dos homens pais, os aspectos socioculturais que influenciam no exercício dos direitos reprodutivos. Para tanto, os procedimentos metodológicos realizados foram entrevistas estruturadas com 45 homens pais de crianças com até 4 anos de idade. A interpretação das informações produzidas foi de natureza qualitativa, fundamentada na perspectiva da produção de sentidos e práticas discursivas, sob um olhar feminista das relações de gênero. Observamos que a maneira que os homens exercem seus direitos reprodutivos está relacionada com suas vivências de cuidado, durante a infância; com o autocuidado; com sua relação com os serviços de saúde, de nível básico; e com suas situações de emprego/trabalho. Seus contextos de vida mostram que aspectos, como estar empregado e conviver no mesmo domicílio que a mãe da criança, não são determinantes para hipotéticas dificuldades e ausências no cuidado. Consideramos que, para além, da análise quantitativa possível para este desenho metodológico, foi possível realizarmos uma leitura qualitativa acerca das práticas de cuidado de homens pais, pois a extensão do conjunto de participantes possibilitou a visibilidade de diversas experiências, com a influência de diferentes aspectos da vida que poderiam ou não representar potencialidades e adversidades para experiências mais equitativas, dentro do contexto doméstico. Com isto, acreditamos que uma visão ampla da experiência dos sujeitos, desde os aspectos individuais aos aspectos macroestruturais e culturais, podem ser um caminho coerente para compreender os marcadores sociais envolvidos na produção de sentidos sobre o cuidado. Vistos de maneira relacional, em um contexto de rígida construção acerca de uma masculinidade hegemônica, que relega às mulheres tal prática e compromete possibilidades múltiplas de experiências de cuidado com crianças, protagonizadas pelos homens, entre eles os que são pais.