Panorama da comercialização das embalagens em geral pós-consumo coletadas pelos programas municipais de coleta seletiva nas capitais do nordeste brasileiro

Abstract

No Nordeste do Brasil a coleta diferenciada de resíduos, que propicia o retorno de materiais potencialmente recicláveis à cadeia produtiva, apresenta um campo de análise desafiador. A ausência de dados sobre a coleta seletiva de materiais e a comercialização destes, como exemplo, resulta em estratégias ineficiêntes que podem estar induzindo ao erro grave em toda a gestão municipal de resíduos, abrangendo: a vulnerabilidade social dos agentes envolvidos; a insustentabilidade econômica do gerenciamento; os impactos ambientais irreversíveis com a disposição final indiferenciada; entre outros. Nesta perspectiva, o estudo buscou analisar o mercado e o fluxo de comercialização das embalagens em geral pós-consumo coletadas pelos Programas Municipais de Coleta Seletiva (PMCS) das capitais do Nordeste brasileiro a partir do panorama obtido com diagnóstico regional. Para consubstanciar os objetivos da pesquisa foram utilizados: metodologia de listagem de dados; mapeamento dos fluxos de comercialização por meio de Sistema de Informações Geográficas (SIG) e proposição de cenários com a adaptação de modelos existentes para o país somados as estratégias de Gestão Ambiental da Cadeia de Suprimentos (GACS). A pesquisa é caracterizada como estudo de caso e utilizou o método exploratório, levantamento de dados secundários (2014 a 2017) e coleta de dados primários. Ressalta-se que a delimitação temporal foi motivada pela indisponibilidade de informações tabuladas, confiáveis e contínuas das capitais de estudo nos bancos de dados consultados. Observou-se nos resultados que as flutuações dos preços dos materiais secundários apresentaram forte influência dos preços de gás natural e petróleo, o que causa instabilidade nos valores dos materiais. Os dados de campo confirmam que entre as capitais do Nordeste a somatória das aparas de papel (atribuído a este todos os tipos de papel, papelão e cartonado) compõe o maior percentual segregado pelos Empreendimentos de Economia Solidária, seguido dos diversificados tipos de plástico. Dentre as embalagens a lata de alumínio (R$ 2,88), seguido do plástico (R$ 1,08) e apara de papel (R$ 0,96) são os de maior valor comercial, por quilograma, na região. Os diferentes valores de comercialização trouxeram interpretações quanto à logística de transporte, concorrência comercial local, impostos locais, poder de negociação das organizações de catadores, qualidade dos materiais triados, entre outros. Também, as variações atribuídas à crise política econômica vivenciada no Brasil mostraram que o preço das embalagens pós-consumo, entre os anos 2015 e 2016, correspondeu a aproximadamente 40%. O diagnóstico permitiu identificar ainda que os fluxos entre as capitais nordestinas concentram-se nas cidades de Recife, Salvador e Fortaleza, que comportam as metrópoles regionais. A partir dos dados analisados a aplicação dos cenários teve como resultado o processo de decisão estratégica, tática e operacional para o retorno das embalagens em geral pós-consumo à indústria. Faz-se necessário complementação de estudos acerca da viabilidade econômica dos cenários propostos. Portanto, os resultados apresentados visaram possibilitar melhorias no processo de tomada de decisão, geração de um banco de dados para o estado da arte e sensibilização da sociedade para efetivação de políticas públicas que contribuam significativamente para a modificação do cenário atual.