Crescimento e produção de compostos bioativos foliares em leguminosas medicinais nativas da Caatinga associadas a fungos micorrízicos arbusculares

Abstract

Mimosa tenuiflora e Erythrina velutina são leguminosas nativas da Caatinga utilizadas para fins medicinais e comerciais. No entanto, não há cultivo dessas espécies, que são exploradas diretamente da natureza, de forma extrativista. Por isso, o cultivo seria uma alternativa para diminuir a extração e, assim, evitar o desaparecimento dessas espécies no futuro. A aplicação de fungos micorrízicos arbusculares (FMA) pode ser uma alternativa para produzir mudas com fitomassa de qualidade melhorada. O objetivo deste estudo foi selecionar FMA, níveis de P esubstratos eficientes em favorecer o crescimento e maximizar a produção de metabólitos secundários, com potencial medicinal, em plantas de E. velutina e de M. tenuiflora em condições controladas e em condições de campo. Realizaram-se quatro experimentos. Os dois primeiros foram conduzidos para determinar a responsividade de M. tenuiflora e de E. velutina à inoculação com FMA e à adubação fosfatada, e o efeito desses fatores sobre a biomassa e a produção de compostos fenólicos. Como E. velutina foi pouco responsiva à micorrização, os experimentos seguintes foram conduzidos apenas com M. tenuiflora. No terceiro experimento foi selecionado substrato eficiente para produção de mudas de M. tenuiflora; no quarto determinou-se a influência da micorrização para aumento do crescimento e da produção de metabólitos primários e secundários foliares em plantas de M. tenuiflora, em condições de campo. Mudas de M. tenuiflora micorrizadas apresentaram maior crescimento e conteúdo de metabólitos primários e secundários em relação às não micorrizadas, sendo os benefícios mais significtivos em solo com baixo teor de P (até P16). A inoculação micorrízica incrementou a altura, o teor de clorofila total e a área foliar de mudas de E. velutina, sendo os benefícios dependentes da espécie de FMA utilizada e da dose de P. Para a maioria dos demais parâmetros avaliados, houve efeito apenas da adição de fósforo e ajuste dos dados ao modelo linear. O húmus de minhoca pode ser utilizado como substrato para produzir mudas micorrizadas de M. tenuiflora, pois favorece o desenvolvimento e incrementa a produção de compostos fenólicos em relação a mudas não micorrizadas. Os benefícios da inoculação micorrízica foram mantidos em condições de campo para alguns parâmetros de crescimento (altura, diâmetro do caule) e para a produção de fenóis totais foliares até 90 dias após o transplantio. Conclui-se que mudas de M. tenuiflora são responsivas e se beneficiam da micorrização principalmente em solo com baixa concentração de fósforo, enquanto mudas de E. velutina têm o crescimento e a produção de fenóis totais e de taninos totais beneficiados pela adição de P, sendo mais responsivas à adubação fosfatada do que à micorrização. A inoculação com FMA, especialmente com Gigaspora albida, promove benefícios para o crescimento e o conteúdo de metabólitos secundários de interesse medicinal de M. tenuiflora, tanto em condições controladas como em condições de campo, podendo ser empregada em substituição à adubação fosfatada. Portanto, essa alternativa mostra-se viável para incentivar a produção de mudas e o plantio de M. tenuiflora, visando a utilização da planta para fins medicinais e evitando a exploração de modo extrativista.