Examinando processos de significação do movimento dançante na interação de crianças

Abstract

O movimento dançante, objeto de estudo desta pesquisa, permite ao ser humano revelar sentidos a partir de seu corpo, explicitando experiências vividas e compartilhadas. O aporte walloniano considera a constituição do ser humano integrando aspectos emocionais, motores, afetivos e sociais, sob uma perspectiva sociointeracionista. A abordagem labaniana sobre o estudo dos movimentos corporais humanos apresenta elementos detalhados para sua análise. A articulação destes dois aportes de áreas distintas formou a base teórica do presente trabalho com o objetivo de examinar os movimentos dançantes, elaborados e desempenhados por crianças, numa Oficina de dança e criação, buscando inferir significações subjacentes, circunscritas em suas interações. Integraram ao estudo 15 crianças organizadas em três grupos de acordo com a faixa etária e turma a que pertenciam numa escola de ensino básico privado. As crianças, no início da coleta, apresentaram idade média de 2 anos e 10 meses, 3 anos e 10 meses e 4 anos e 8 meses, respectivamente para os Grupos 1, 2 e 3. Esta pesquisa, de caráter qualitativo, utilizou-se da videogravação como instrumento de coleta de dados, visto os ganhos observacionais possíveis, uma vez que ela possibilita voltar ao material coletado, tal como ele ocorreu na situação de observação, quantas vezes forem necessárias, ampliando a precisão e capacidade de apreensão e análise do fenômeno investigado. Foram realizadas oito sessões de videogravação com cada grupo, contempladas em três semanas. Cada sessão teve duração média aproximada de 29 minutos, totalizando 10 horas e 45 minutos de registros. Esse material, inicialmente, foi restringido a 18 trechos contemplativos extraídos de uma música com texto e de outra só instrumental. Nestes trechos foram identificados 130 tipos de movimentos dançantes, sob critérios estabelecidos, para fins de análise. Deste montante, houve a seleção de seis movimentos (dois em cada grupo), e, portanto, seis episódios foram recortados. A análise destes episódios conduziu às seguintes reflexões: (1) o olhar é a base elucidativa de orientação atencional para evidenciar pistas sobre as regulações nas interações durante a construção e desempenho do movimento dançante; (2) as significações são construídas na medida em que há um compartilhamento das ações; (3) as crianças têm a capacidade de significar e ressignificar um mesmo movimento em diferentes contextos; (4) os movimentos dançantes são meios para expressar emoções e motivações, havendo mais interesse na própria emoção do que no desempenho do movimento em si. Conclui-se que o movimento dançante é um veículo de expressividade, impregnado de significações emergidas na interação, na constante necessidade humana de sentir-se parte integrante e atuante do meio em que está inserido.