Soluções baseadas na natureza, como estratégias para o enfrentamento do aumento do nível do mar: um ensaio de aplicação no contexto costeiro de Recife-PE

Abstract

As cidades costeiras enfrentam riscos crescentes em decorrência das mudanças climáticas, como a elevação do nível do mar, intensificação de eventos extremos e processos erosivos. A cidade do Recife, por sua localização geográfica, densidade populacional e ocupação desordenada, figura entre as capitais brasileiras mais vulneráveis a esses impactos. Diante desse cenário, este trabalho busca analisar como as Soluções Baseadas na Natureza (SbN) podem contribuir para a adaptação climática da zona costeira de Recife, identificando estratégias viáveis e seus desafios de implementação. A metodologia consistiu em uma revisão sistemática de literatura científica internacional, com seleção de 99 artigos publicados entre 2010 e 2025. A análise considerou critérios como região geográfica, tipo de clima, impactos abordados, soluções propostas e barreiras à implementação. Os artigos foram classificados segundo a tipologia das SbN baseada na IUCN: Tipo 1 (proteção de ecossistemas intactos), Tipo 2 (gestão sustentável de ecossistemas), Tipo 3 (restauração de ecossistemas degradados) e Tipo 4 (infraestrutura híbrida ou inspirada na natureza). Os resultados indicaram predominância das estratégias de restauração (Tipo 3) e de infraestrutura híbrida (Tipo 4), com foco em manguezais, recifes artificiais e dunas vegetadas. Recife apresenta potencial para aplicação dessas estratégias, especialmente em áreas como o Parque dos Manguezais Josué de Castro e na Ilha de Deus, onde práticas tradicionais, como a carcinicultura comunitária, evidenciam caminhos possíveis para soluções sustentáveis. No entanto, a aplicação prática dessas soluções em Recife enfrenta desafios significativos, como a falta de áreas livres para implementação em larga escala, conflitos de uso do solo, descontinuidade de políticas públicas e baixa integração entre atores institucionais e comunitários. A escassez de espaço físico limita a implantação de SbN puras, especialmente em áreas densamente urbanizadas, como as bacias do Pina, Tejipió e Capibaribe, além da própria zona costeira. Nesse cenário, soluções híbridas – que combinam infraestrutura verde com elementos da engenharia tradicional – emergem como alternativas mais viáveis, ao permitir ganhos ecológicos e funcionais mesmo em ambientes antropizados. Conclui-se que, embora as SbN representem caminhos sustentáveis para a adaptação costeira, sua adoção efetiva em cidades como Recife exige articulação intersetorial, inclusão social, planejamento urbano integrado e desenho flexível de soluções que se adaptem às restrições espaciais e institucionais existentes. As infraestruturas híbridas, quando bem planejadas e contextualizadas, podem exercer papel estratégico na ampliação da resiliência climática urbana.