"No Nordeste, e especialmente no Recife, um homem tem que ser macho" : a abjeção à homossexualidade masculina do Recife no Diário de Pernambuco (1970s)

Abstract

O presente trabalho tem como objetivo analisar os discursos publicados no jornal Diário de Pernambuco sobre a homossexualidade masculina entre os anos de 1970 e 1980, buscando entender como esses escritos construíam representações negativas e estereotipadas desses sujeitos no contexto da ditadura civil-militar brasileira. A partir dos estudos da sexualidade, masculinidade e da Queer Theory, investiga-se de que forma os artigos de opinião publicados na seção “Opinião” do periódico associaram a figura do homossexual à abjeção, desvio, e ameaça à ordem social. A pesquisa também se propõe a analisar como essas representações, articularam-se, de forma insistente, com a ideia de uma “masculinidade nata” do nordestino - um marcador discursivo mobilizado frequentemente para opor corpos dissidentes à virilidade esperada. A análise dos nove artigos selecionados mostra um discurso normativo e nominativo que não só reprime a homossexualidade e reforça a heteronormatividade, mas ajuda moldar ativamente o próprio sujeito homossexual, associando-o a crimes, doenças e degeneração moral. No limite, concluímos que o jornal foi um dos pilares do monitoramento e da regulação de dissidentes sexuais, ao estabelecer uma linha divisória clara entre corpos considerados legítimos e importantes e aqueles relegados à marginalidade, vidas que não deveriam existir, mas que insistiam em florescer.