Evolução do mercado de trabalho brasileiro no período entre 2020 e 2023: uma análise da resposta das famílias aos impactos da Covid-19.

Abstract

A pandemia da Covid-19 causou uma crise global devastadora, afetando a saúde, a economia e a sociedade como um todo. Seus impactos, no entanto, foram sentidos de forma desigual em países, regiões, grupos sociais e estruturas familiares. Especificamente no âmbito econômico, o mercado de trabalho foi abalado de forma heterogênea, com certos grupos sociais sentindo mais o peso da recessão do que outros. Nesse sentido, fatores tanto da oferta quanto da demanda contribuem para explicar disparidades nas flutuações do emprego. Este estudo tem como objetivo analisar a resposta do mercado de trabalho brasileiro, frente aos impactos sofridos devido a pandemia, considerando aspectos de gênero, ocupacionais, familiares, de renda e cor da pele. Usando uma abordagem multidimensional, as ocupações são caracterizadas e classificadas com base em sua exposição à pandemia, para que a dinâmica da oferta e da demanda de trabalho em 2020 e 2023 sejam investigadas. A abordagem empírica utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C) e modelos logit, com foco no período de janeiro a setembro de 2020 e nos meses correspondentes de 2023. Assim, torna-se possível identificar os grupos sociais mais afetados, e examinar a continuidade dos impactos da pandemia da Covid-19 no mercado de trabalho. Os principais resultados indicam que as mulheres, indivíduos negros, e responsáveis por crianças foram desproporcionalmente afetados pela pandemia, em termos de situação ocupacional e participação na força de trabalho. Adicionalmente, alguns efeitos da pandemia sobre a situação ocupacional dos indivíduos são persistentes no período pós-pandemia. A estrutura familiar parece ser um fator relevante na explicação da dinâmica do mercado de trabalho nos períodos analisados. Ademais, indivíduos com menores níveis de renda também foram mais afetados pela pandemia da Covid-19, em termos de transições ocupacionais. Tais achados evidenciam que essa crise não apenas abalou o Brasil, mas ainda agravou desigualdades sociais já existentes.