Qualidade ecotoxicológica do sedimento em um sistema estuarino com atividades industriais e portuárias nos últimos 20 anos

Abstract

Os estuários são ecossistemas costeiros vitais para a proteção contra a erosão, promoção da biodiversidade e mitigação das mudanças climáticas. Assim devido ao desenvolvimento costeiro, poluição e alterações climáticas, a preservação dessas áreas torna-se crucial. O Complexo Industrial e Portuário de Suape (CIPS) em Pernambuco é um importante centro econômico, bem como fonte de impactos negativos para a região estuarina, como alteração da dinâmica sedimentar e liberação de poluentes. O estudo proposto teve como objetivo avaliar a evolução temporal entre 2003 e 2023 da qualidade do sedimento no CIPS utilizando bioensaios de toxicidade com o copépodo epibentônico Tisbe biminiensis. Foram obtidos dados primários e secundários de toxicidade do sedimento lamoso usando bioensaios padronizados com fêmeas ovígeras, testando mortalidade e fecundidade, e com náuplios, testando mortalidade e desenvolvimento, em dois pontos nas desembocaduras dos Rios Massangana e Tatuoca. Dados de concentrações de metais no sedimento também foram obtidos e comparados ao longo do tempo. Durante o período de 2003 a 2023, o sedimento de Suape apresentou toxicidade em várias campanhas. Ao longo dos anos, o sedimento apresentou impacto baixo na mortalidade (média ± desvio padrão de 11% ± 13) das fêmeas ovígeras do copépodo, porém causou redução significativa na fecundidade das fêmeas (redução média de 26 ± 29% na foz do rio Massangana e 24 ± 31% na foz do rio Tatuoca). Entre 2003 e 2008 observou-se uma melhora na fecundidade, indicando uma melhor qualidade do sedimento, alcançando média de 14 ± 24%, porém a partir de 2009 a fecundidade voltou aos valores anteriores (34,7% ± 30,1 no rio Massangana e 22,2% ± 26,3 no rio Tatuoca) e se mantém estável até 2023. Entre 2016 e 2023, efeitos letais e subletais foram observados aos náuplios com aumento significativo na mortalidade ao longo do tempo chegando a 49 ± 27%, principalmente durante o período chuvoso que apresentou valores aproximados de 51 ± 26%. A inibição do desenvolvimento apresentou uma leve tendência de aumento (p= 0,054) entre 2016 e 2023, com médias chegando a 62 ± 31%. Quanto à análise de metais nos sedimentos observou-se que, em geral, os níveis permaneceram dentro dos limites aceitáveis. Embora alguns metais tenham variado ao longo dos anos, em 2023 apresentaram valores mais baixos, com exceção de Cu e Zn, que aumentaram, mas ainda assim permaneceram dentro dos padrões de referência de qualidade de sedimento marinho. Tais resultados em comparação à literatura indicam que outros contaminantes além dos metais devem estar envolvidos na toxicidade do sedimento e que precisam ser avaliados e controlados. Por isso sugere-se a permanência do monitoramento da área, sobretudo da matriz sedimentar que é insuficientemente controlada pela atual legislação ambiental brasileira. E, paralelamente, aprimorar as medidas preventivas para preservação e cuidado de ambientes estuarinos.