Uso de sensoriamento remoto como ferramenta de análise de cartografia social: caso Itacuruba - PE

Abstract

A paisagem do sertão nordestino, banhada pelo rio São Francisco, foi radicalmente transformada nas últimas décadas do século XX com a construção de grandes usinas hidrelétricas, como Paulo Afonso, Xingó e Luiz Gonzaga. Essas obras, que inundaram vastas áreas e alteraram o regime hídrico do rio, marcaram o fim de um modo de vida tradicional para muitas comunidades ribeirinhas. A construção da usina hidrelétrica Luiz Gonzaga exemplifica os conflitos do desenvolvimentismo com a preservação de gestão dos recursos naturais em regiões semiáridas, onde a demanda por energia coexiste com a necessidade de conservar os ecossistemas e garantir o direito à terra das comunidades tradicionais como indígena e quilombola. A construção da usina hidrelétrica Luiz Gonzaga provocou a submersão de 27,21% do território de ItacurubaPE, impactando significativamente as comunidades locais. Este trabalho buscou analisar, através de ferramentas de sensoriamento remoto, as informações obtidas por meio da cartografia social elaborada no projeto Nova Cartografia Social da Amazônia com a participação das comunidades locais de Itacuruba, que apontavam a submersão, causada pela usina hidrelétrica Luiz Gonzaga, de ilhas fluviais utilizadas por povos indígenas para agricultura. Utilizando imagens de satélite dos anos de 1985 e 2022, foram elaborados mapas temáticos de índices que avaliam parâmetros biofísicos, como o Índice de Diferença Normalizada da Vegetação (NDVI) e o Índice de Diferença Normalizada da Água (NDWI). Com aplicação de técnicas de processamento digital de imagens (PDI), este trabalho realizou a análise espaçotemporal pelo NDWI, que quantificou uma redução de aproximadamente 96% nas áreas insulares entre 1985 e 2022. Por meio da análise do NDVI, foi observada a presença de vegetação nessas áreas, corroborando os relatos da cartografia social sobre a utilização das ilhas para fins agrícolas. A sobreposição entre os dados de sensoriamento remoto e a cartografia social valida os conhecimentos tradicionais e reforça a importância da participação das comunidades na gestão dos seus territórios. Os resultados deste estudo podem contribuir para o fortalecimento das lutas dessas comunidades tradicionais por seus direitos territoriais e pela conservação dos seus espaços.