Contaminação de águas superficiais e subterrâneas por agrotóxicos em territórios de cultivo de cana-de-açúcar em Pernambuco

Abstract

O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, e diversos danos para o ambiente e para a saúde estão associados a esses biocidas. A contaminação hídrica pode ter severas repercussões toxicológicas e ecotoxicológicas de curto, médio e longo prazo. O trabalho teve como objetivo determinar a contaminação de águas superficiais e subterrâneas nas regiões produtoras de cana-de-açúcar na Zona da Mata Pernambucana. Trata-se de um estudo transversal analítico desenvolvido nos municípios de Goiana, Aliança Itambé, Sirinhaém e Água Preta, grandes produtores de cana-de-açúcar do estado de Pernambuco e no nordeste do Brasil. Foram coletadas até 9 amostras por município por ciclo de coleta, totalizando 211 amostras de água coletadas de dezembro de 2021 a agosto de 2022. Foram realizadas análises por imunodiagnóstico e pelo método multiresidual com cromatografia a gás e espectrometria de massas, em água bruta de fontes superficiais e subterrâneas, e em água tratada (clorada) de abastecimento público. Os resultados confirmaram a presença de agrotóxicos nas águas de todos os municípios, em 129/211 das amostras. Foram identificados 48,06% (62/129) em fontes de águas subterrâneas (SUB), e 51,94% (67/129) em águas superficiais (SUP), com um total de 19 substâncias diferentes. Agrotóxicos foram identificados na água de poço de escolas rurais, em poços de fontes de água mineral, em poços comunitários em áreas rurais e nos principais rios e barragens dos municípios. Observou-se contaminação ambiental por agrotóxicos, podendo comprometer a biota e afetar a saúde das populações expostas. Embora o VMP não tenha sido ultrapassado na maioria dos casos, podem ocorrer danos não dose- relacionados, e efeitos aditivos e sinérgicos decorrentes das misturas de agrotóxicos. Os níveis de resíduos detectados demonstram-se particularmente relevantes ao se considerar os efeitos decorrentes da exposição às misturas, bem como ao se comparar os VMP adotados por países da união europeia, que consideram valores mais protetivos para a saúde e o ambiente.