Associação entre o uso de agrotóxicos e o risco de ocorrência de câncer de pulmão

Abstract

O câncer de pulmão é responsável por uma alta incidência de casos no Brasil e em âmbito mundial, afetando tanto homens quanto mulheres, embora a maior prevalência seja em homens. Além dos principais fatores como o tabagismo e a exposição ao fumo passivo, o câncer pulmonar ocupacional vem sendo temática de pesquisas científicas. Este último, está relacionado a exposições ambientais ou ocupacionais a substâncias carcinogênicas atreladas ao ambiente de trabalho. Diversos agentes carcinogênicos já foram apontados como precursores de variados cânceres em estudos, como o radônio, amianto, sílica e arsênico. Paulatinamente, evidências experimentais associam os agrotóxicos como agente neoplásico pulmonar. Embora os agrotóxicos contenham uma variedade de substâncias químicas que garantem sua eficácia no controle de pragas, doenças e ervas daninhas, estes também representam uma ameaça à saúde. Isto porque ao entrar em contato com o organismo seja por via dérmica, oral ou inalatória, pode desenvolver diversas doenças, inclusive a neoplasia pulmonar. No Brasil, os agrotóxicos são liberados e classificados em classes de toxicidade, sendo os agrotóxicos inseridos em todas as categorias. Assim como em outros estados do país, Pernambuco, por possuir uma parcela importante da economia através da agricultura, marcada pela fruticultura irrigada e plantações de cana-de-açúcar, utiliza agrotóxicos que podem ter uma forte associação com a carcinogênese pulmonar. Neste contexto, o presente trabalho objetivou realizar um panorama sobre a associação entre o uso e os tipos de agrotóxicos e o risco da ocorrência do câncer de pulmão. Esta revisão integrativa da literatura, envolveu várias etapas na sua construção: formulação do problema; busca na literatura dos estudos primários; avaliação dos estudos incluídos na revisão; análise dos dados; apresentação dos resultados. Para a busca das publicações, foram utilizadas as bases de dados Web of Science, Scopus e Medline/Pubmed. Com a finalidade de viabilizar as buscas, foi realizada consulta dos descritores, que posteriormente foram cruzados entre si. Foram incluídos 43 estudos que atenderam os critérios de inclusão para análise e discussão, estes foram avaliados quanto ao rigor metodológico e nível de evidência. Por fim, foram categorizados em grupos a fim de atingir os objetivos específicos e discutidos baseados na literatura científica. Esta pesquisa possibilitou reunir estudos que encontraram evidências significativas da relação entre o uso dos agrotóxicos agrícolas atrazina, malationa, metolacloro, acetocloro, cipermetrina, pendimetalina, clorpirifós, ácido diclorofenoxiacético (2,4D), trifluralina, terbufos, ácidos fenoxi, entre outros, utilizados e liberados no Brasil com a carcinogênese pulmonar. Dentre os principais mecanismos tóxicos induzidos por essas substâncias, incluem-se as modificações em nível molecular e os prejuízos citotóxicos, tais como: alterações na expressão gênica e inibição da apoptose, necrose, inflamação e lesões proliferativas das células epiteliais alveolares tipo 1, lesões pré-neoplásicas no epitélio bronquiolar, anomalias linfáticas, superexpressão das proteínas c-ErbB2 e da proteína Rho-A, superexpressão do receptor do fator de crescimento epidérmico HER-2/neu, estresse oxidativo, desregulação dos genes de uma das vidas do câncer pulmonar, tais como: Itgb1, Cdk6, NF-κB1, p53 e Apaf1.O herbicida pendimetalina foi o mais citado e o que teve maior associação com o câncer pulmonar nos estudos. Já o tipo histológico mais frequente foi o Adenocarcinoma, câncer de pulmão de células não pequenas. Além disso, destacou a importância de medidas de proteção cruciais, como o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e estratégias de proteção celular, exemplificadas pelo emprego do inseticida natural deguelina. Portanto, é possível destacar que estes agrotóxicos liberados para as culturas de milho, cana-de-açúcar, algodão, uva, café e mandioca — predominantes em Pernambuco — estão associados ao risco de desenvolvimento de neoplasia pulmonar.