Interação cego-vidente : a resolução de problemas combinatórios com materiais que exploram diferentes sentidos

Abstract

O estudo visou contribuir para a aprendizagem de Combinatória por estudantes cegos e videntes, utilizando materiais manipuláveis que exploram diferentes sentidos e atendem as necessidades de cada estudante. Fundamentou-se nos princípios da Educação Inclusiva, norteada por documentos oficiais; na Teoria dos Campos Conceituais; nas concepções acerca da deficiência visual e da mediação; além de abordar a Teoria da Corporeidade. Também são trazidas pesquisas sobre a interação cego-vidente e sobre a aprendizagem de cegos em diferentes disciplinas e conteúdos. Para o desenvolvimento do estudo, foram revisados problemas e materiais utilizados em estudo anterior, elaborando-se ou adaptando-se novos problemas e materiais, explorando os sentidos do tato, olfato e visão. Assim, os materiais desenvolvidos possuem diferentes texturas, odores e cores, além de terem sido construídos a partir de materiais que podem ser facilmente encontrados pelos professores. Os problemas combinatórios de arranjo, combinação, permutação e produto de medidas, e os materiais elaborados para resolvê- los, foram aplicados, de modo conjunto, a uma estudante cega e uma estudante vidente, matriculadas no 5o ano do Ensino Fundamental numa escola municipal do Recife. Os resultados apontam que os materiais desenvolvidos, bem como a interação entre as estudantes e com a pesquisadora, possibilitaram a identificação dos elementos e o estabelecimento de relações necessárias à resolução dos problemas combinatórios, além da troca de estratégias entre as estudantes. Os materiais estimularam, assim, a compreensão das crianças a respeito das relações de escolha e de ordenação de elementos, bem como de esgotamento de possibilidades, das variadas situações combinatórias: arranjos, combinações, permutações e produto de medidas. Também se observou que para a estudante cega, o tato se mostrou o sentido que mais lhe foi confortável, enquanto o olfato se mostrou atrativo para a estudante vidente. Posteriormente, os materiais e momentos da interação, bem como a resolução de problemas pelas estudantes, foram apresentados a uma professora da sala regular e outra de Atendimento Educacional Especializado, ambas com experiência com estudantes cegos. Estas analisaram que os materiais cumprem a proposta a que se propõem, reconheceram a importância da interação entre as estudantes cega e vidente para a construção das aprendizagens de Combinatória, e sugeriram outras situações pedagógicas em que os materiais podem ser utilizados, como para realizar padrões, gráficos, classificações e quantificações. Também reforçaram a importância do professor em identificar possibilidades de interação e aprendizagens entre os estudantes, de acordo com as especificidades e possibilidades de seus estudantes. Espera-se que o estudo contribua com o campo teórico da Educação Matemática e para a prática da inclusão pelos professores da Educação Básica, com foco na aprendizagem dos estudantes, em particular da Combinatória, partindo-se das considerações de suas necessidades e possibilidades, bem como da interação entre eles.