O que nos conta a prática de empoderamento das negras na cidade de Caruaru – PE? Comportamento de consumidoras socio-historicamente marcados por uma ideologia de existência.

Abstract

Sendo o empoderamento uma prática social reconhecida pela complexidade, por envolver a autonomia e pela centralidade do conceito de poder. Nós nos apoiamos em Michel Foucault, e passamos a considerar o empoderamento como um dispositivo, uma rede heterogênea de elementos operada por meio de saberes, cuja ação acontece atrelada a outros dispositivos, em situações escalares - micro e macro, e históricas - síncronas e diacrônicas. Assim, realizamos a junção das Teorias das Práticas com os conceitos Foucaultianos, respeitando as suas singularidades e passamos a considerar que a experiência de empoderamento é pautada em ideologias arraigadas no cotidiano dos envolvidos, se desdobram no consumo, envolvendo linhas de força que potencialmente promovem processos de: veridição, jogos de verdade, subjetivação e objetivação, sendo capazes de fabricar realidades e sujeitos como efeito das relações saber-poder. Logo, nesse trabalho nos voltamos para as práticas de empoderamento das negras, em Caruaru-PE, cidade conhecida pelo ativismo da causa antirracista, para desvelar os saberes que propiciam operacionalizar essa rede de forças e sua relação com os comportamentos de consumo ativista. E diante disso, nos questionamos: como os saberes fundantes das práticas de empoderamento das negras contribuem para entender o comportamento de consumo? Para tanto, nosso arquivo foi formado por 1.586 documentos coletados nas redes sociais Facebook, Instagram e Twitter, no período de novembro de 2019 a agosto de 2022. Visando contemplar as orientações ideológico-políticas do movimento ativista antirracista, coletamos as práticas de empoderamento divulgadas por agentes institucionais, ativistas locais e consumidoras que interagem com os agentes. Os documentos foram submetidos a análise de discurso foucaultiana, desvelando três saberes: Os modos de objetivação fortalecem as práticas que dividem; A construção coletiva de valores promove processos de subjetivação; e A ação dada sobre si nas dinâmicas de subjetivação incita o estabelecimento de subjetividades autônomas. Portanto, concluímos que as práticas ativistas das negras no interior do micro dispositivo empoderamento são de grande relevância para se compreender o comportamento de consumo, pois é a partir das práticas cotidianas e rotineiras que o consumo se conforma, e no caso em questão essas práticas envolvem pautas sociais e políticas além de todo um contexto sócio-histórico que fundamenta as vivências das negras em Caruaru-PE e consequentemente evidencia o papel do cotidiano para se compreender a importância que o consumo assume em nossas formas sociais.