Monitoramento viral de SARS-CoV-2 em águas urbanas e esgoto sanitário como ferramenta de vigilância epidemiológica

Abstract

A pandemia causada pela COVID-19 foi decretada pela Organização Mundial da Saúde em 11 março de 2020, com 590 milhões de casos confirmados até Agosto de 2022. Desde o início da pandemia, relatórios clínicos de Wuhan, na China, já detectavam a presença de sintomas gastrointestinais causados pela COVID-19, e essas pesquisas foram seguidas por estudos relatando a presença de RNA viral em fezes de pacientes contaminados. O uso do monitoramento viral em esgoto sanitário já é uma técnica utilizada para diversos patógenos, e foi escolhida pela capacidade de se poder detectar a quantidade de fragmentos virais equivalentes ao nível circulante do vírus na população com o objetivo de acompanhar a dinâmica viral na cidade do Recife durante a pandemia. Os protocolos de detecção viral foram gerados por estudos das metodologias de detecção e quantificação de vírus entéricos, testados e aplicados para vírus envelopados como o SARS-CoV-2. 468 amostras de água foram coletadas por companhias de Saneamento das ETEs Mangueira, Cabanga e Peixinhos e os Canais Urbanos da Várzea, do Ibura, Água Fria e Boa Viagem do Recife e foram transportadas para o laboratório de saneamento ambiental (LSA) da UFPE para as análises virais e físico-químicas entre Maio de 2021 e Julho de 2022 . Os resultados da concentração viral foram equivalentes aos resultados de indicadores de contaminação da cidade do Recife, e quando comparados a dados de saúde do município, acompanharam o número de casos suspeitos e testados positivamente, número de leitos ocupados e número de mortes confirmadas divulgados pela Secretaria de Saúde do Recife. Ao observar os dados de saúde, notou-se que os períodos de pico de concentrações virais coincidem com períodos considerados como “ondas de contaminação”, com importante influência do fator social no aumento da contaminação, como observado após as comemorações de fim de ano em 2021 e as de Julho de 2022 e também das chegadas de novas variantes com a expressiva subida de casos em Janeiro de 2022 que, posteriormente seriam atribuídos a recente variante B1.1.529 (Ômicron). Por fim, o material coletado serviu como base para a produção de materiais epidemiológicos auxiliares (Boletim de acompanhamento epidemiológico) publicados e disponíveis na plataforma da Agência Nacional de Águas para a divulgação dos resultados e auxiliar medidas públicas de saúde.