Variabilidade espaço-temporal dos vórtices da corrente norte do Brasil: observações para o período de 1993 a 2007

Abstract

A Corrente Norte do Brasil (CNB), ao sofrer retroflexão, intensifica a vorticidade de seu escoamento e pode, ocasionalmente, liberar grandes vórtices anticiclônicos de núcleo quente, que são definidos como porções de massas de água “confinadas” por um movimento circular proveniente de corrente oceânica. Estas feições contribuem para a distribuição de massa, momento, calor, sal, e nutrientes nos oceanos. O objetivo deste trabalho é analisar a geração e ocorrência dos vórtices da CNB (VCNBs) através de 15 anos (1993-2007) de dados de campo de correntes geostróficas à 50m de profundidade e com 0.25o de resolução, aplicados ao Algoritmo de Detecção e Trajetória de Momento Angular de Vórtices (AMEDA). Assim, foram analisados, para cada vórtice, 5 parâmetros: Rmáx, Vmáx, Número de Rossby (Ro), Energia Cinética (EC) e anomalia de altura da superfície do mar (aASM). Foram observados 83 VCNBs no período analisado, indicando média de 5.53 vórtices por ano. Grande variabilidade interanual na geração dos VCNBs foi verificada. Tais estruturas apresentaram duração média de 15 semanas, Rmáx e Vmáx médios de 144.37 km e 0.2655 m/s, respectivamente, além de aASM médias de 7cm. Para EC e Ro os valores médios obtidos foram 2.35 m2/s2 e 0.0884, respectivamente. Observou-se também leve sazonalidade tanto na geração de vórtice, quanto na taxa das ECs e aASM associadas aos mesmos, com os maiores valores sendo observados na primeira parte do ano. Acredita-se que a sazonalidade na geração seja influenciada pelas intensidades da CNB, haja vista que os meses de menor força coincidem com os de máxima geração de VCNBs, enquanto que a sazonalidade nas taxas das ECs e aASMs parece ser afetada pela sazonalidade no tipo de vórtice formado. Foram também verificadas correlações entre alguns parâmetros analisados, em que a relação Rmáx x EC, ainda não retratada na literatura, pode, por exemplo, ser importante na estimativa de transferência de energia entre Hemisfério Sul e Hemisfério Norte baseando-se no Rmáx do vórtice. Notou-se também a capacidade do AMEDA na identificação dos centros e das trajetórias dos VCNB’s, trajetórias estas quase permanentemente à noroeste, podendo alguns vórtices apresentar pequenas variações temporárias neste sentido. Por fim, estima-se que os VCNBs têm dificuldade para se fundir, devido à presença de um escudo dinâmico externo de vorticidade positiva, oposta às dos centros dos mesmos (negativa). Ainda assim, foram observados alguns eventos de fusão, onde tal interação pode ser a responsável por um crescimento na EC do vórtice fundido em relação aos isolados, além dos mesmos atingirem valores de Rmáx entre 30-40% maiores quando fundidos do que quando isolados.