Os sentidos dados pelas consumidoras aos rótulos dos produtos de cosméticos para cabelos crespos e o papel do design para uma sociedade inclusiva.

Abstract

A moda é uma força disseminadora de padrões estéticos e, tanto propicia modos de expressão, quanto operacionaliza a regulação do comportamento de consumidores/usuários, ao estabelecer e disseminar padrões estéticos de beleza entendidos como satisfatórios. Assim esse sistema colaborou sobremaneira para o entendimento social de que o cabelo “bom” era o cabelo liso. Essa ditadura promoveu um ajustamento, especialmente das mulheres negras, para conquistar esse modelo de beleza. Considerando o cabelo um aspecto fundamental para a representatividade racial identitária, por meio de um levantamento histórico percebemos que, recentemente, uma junção de fatores propiciou uma transformação dessa realidade para a mulher negra brasileira. Tornou-se uma demanda de moda aderir a discursos defensores da inclusão social e do respeito as minorias, ao mesmo tempo em que culminou uma melhora significativa das condições de vida da população brasileira de baixa renda, sendo esse público, a maioria da população brasileira. Ela foi ocasionada pelos investimentos dos últimos governos e gerou a demanda e a oferta de diversos produtos de beleza para esse seguimento de usuárias. Contudo, notamos que os rótulos de alguns cosméticos para cabelos crespos, carregam discursos pejorativos quando se referem aos efeitos dos cosméticos. Aqui vislumbramos um papel social relevante a ser desempenhado pelo design, pois quando tratamos de uma pauta social e de um produto criado para atendê-la, não há como não discutir esse papel, já que todo design é social. Acreditamos que o discurso social de valor deve ser considerado como um pilar para o desenvolvimento de um design responsável, pois seguindo Bernhard Bürdek, o design produz realidades materiais e funções comunicativas. Nesse sentido, nos questionamos se essa comunicação estaria de fato atendendo às necessidades das usuárias. Nossa questão de pesquisa voltou-se para entender: como as consumidoras de produtos cosméticos para cabelos crespos/cacheados significam as mensagens dispostas em seus rótulos? Para coletar esses dados, fizemos um questionário no story do Instagram contendo perguntas abertas e imagens de 3 produtos. Nosso corpus foi formado por 36 respostas acerca dos sentidos atribuídos aos elementos de design contidos nos rótulos. Nossos resultados apontaram para três reações das consumidoras: encantadas que consomem, conscientes que consomem e indignadas que se abstêm. Evidenciamos o papel imagético dos rótulos dos produtos, indicando como a linguagem de moda e publicidade podem ser persuasivas para decisões de compra e, ao contrário, como o uso de termos pejorativos, não promoveu identificação da usuária mais politizada. Propomos que nossos resultados se prestem para a reflexão sobre a importância do papel do design numa sociedade que se pretende inclusiva.