Discutindo emoções dos escritores universitários no processo de composição da escrita acadêmica

Abstract

A presente pesquisa visou analisar as relações existentes entre emoções e o processo de escrita acadêmica; as dificuldades que uma parte significativa dos escritores acadêmicos registra ao nível do processo da produção do texto escrito, buscando, ao mesmo tempo, que os resultados pudessem contribuir para a discussão dos aspectos emocionais envolvidos neste processo e possibilitar abrir caminho a outros percursos investigacionais que venham a ser traçados nesta área de estudos em ascensão, mas ainda muito pouco trabalhada e investigada no Brasil. A conscientização das emoções envolvidas durante o processo da escrita acadêmica pode auxiliar o escritor diante deste processo. Desta forma, o objetivo geral recai em analisar os processos de escrita do escritor acadêmico iniciante diante das suas emoções no processo de produção textual acadêmica. Para tanto, fizeram parte da pesquisa quatorze estudantes acadêmicos de uma Instituição de Ensino Superior Público Federal, sendo que oito deles cursavam o V período e os outros seis estavam cursando o VIII período. A construção dos dados foi realizada mediante os seguintes instrumentos: o Questionário adaptado de Lara (2014) e Lonka (1996), para construção inicial de emoções e escrita no contexto acadêmico; Diário Processual adaptado de Castelló, Iñesta e Monereo (2009) para questionamento sobre emoções durante o processo de produção textual; o uso de software de captura de tela (Lotus Screencamara) para a videogravação do processo de produção dos textos escritos; a sugestão do uso de Pauta Diretiva de textos adaptado de Monereo e Castelló (1996). A participação ocorreu de modo voluntário com assinatura do Termo de Aceite (TCLE). O procedimento para a construção dos dados envolveu quatro encontros entre a pesquisadora e os estudantes. O procedimento de análise dos dados ocorreu de modo qualitativo, apresentando como foco os aspectos estudados de: a) emoções dos participantes associadas à escrita; b) conceitualização/conhecimento da escrita; c) regulação do próprio processo da escrita. As análises dos dados mostraram que antes e depois do processo de produção textual houve permanência de emoções negativas como ansiedade, medo, estresse e insegurança relacionadas ao processo da escrita acadêmica, mas também houve mudanças nos aspectos emocionais positivos dos estudantes, observando o crescimento das emoções de satisfação, segurança, alegria e tranquilidade a partir do momento em que eles conseguiam criar um planejamento para elaborar o texto e compreender melhor a estrutura do texto acadêmico que estavam produzindo, proporcionando uma possibilidade de regular o próprio processo de composição escrita. Os participantes que se mostraram menos conscientes sobre o seu próprio processo de produção textual se sentiram mais ansiosos. Eles consideram que se houver orientação voltada ao processo de produção de textos acadêmicos, poderiam sentir menos emoções negativas vinculas à escrita acadêmica. Nestes termos, partindo-se da realidade dos alunos, aponta-se a possibilidade de inserção de uma disciplina universitária pensada e elaborada para a escrita acadêmica, considerando-a enquanto processo de produção de uma situação de comunicação.