Doce e bala no varejo : o funcionamento do mercado de drogas sintéticas no Recife

Abstract

Esta dissertação consiste numa investigação qualitativa acerca dos mecanismos configuracionais que operam no mercado de drogas sintéticas, com recorte específico na classe média do Recife/PE. As transações e fluxos deste mercado foram analisados a partir da caracterização das práticas dos atores em função de suas interações nas redes de comércio dessas substâncias ilícitas enquanto consumidores. As interações entre usuários e vendedores constituem as redes de relações de membros inseridos no contexto do varejo de drogas sintéticas. Para compreender o funcionamento desta estrutura social ilegal, foram realizadas 12 entrevistas semiestruturadas que forneceram dados qualitativos, formadores do corpus textual, que serviram como base para analisar quais são os mecanismos operantes nestas dinâmicas; desde os fluxos de compra até as estratégias seguidas para garantia de estabilidade das transações e da manutenção das relações que transcendem a participação nestas trocas. Em função das políticas de controle e repressão do comércio de drogas serem, em parte, direcionadas à dissuasão destas dinâmicas, os atores envolvidos nestas atividades criam formas de interação, tornando-as de difícil controle quando comparadas a outras práticas ilegais mais expostas. Além da regulação formal externa, aspectos morais relativos ao estigma do uso e da venda de drogas regulam a exposição dos atores em relação a indivíduos de outros contextos. Os achados permitem compreender o fenômeno esquematicamente e identificar que mecanismos operam e garantem a ausência de uso da força física como forma de regulação. A confiança esteve presente em várias dimensões destas interações enquanto mecanismo de garantia de estabilidade. Os resultados evidenciam sistemas criados para minimizar vínculos externos com vendedores, e a visibilidade sobre as transações e estratégias funcionais de garantia de qualidade do que é consumido, reduzindo os custos das transações, sejam eles econômicos e/ou sociais. Em síntese, os atores constroem a partir de suas práticas, estruturas de segurança sem uso da força enquanto estratégia de controle interno. Estas dinâmicas caracterizam este mercado de drogas não violento, contrapondo-se à frequente associação causal entre drogas e violência.