Prevenção do bullying no contexto escolar: construção, implementação e avaliação de um programa de intervenção mediado pelos círculos de cultura

Abstract

O bullying é considerado uma das manifestações da violência escolar mais discutidas nos últimos anos. Modelos de intervenção vem sendo desenvolvidos com o intuito de fomentar políticas antibullying e ações que contribuem para ressignificar o ambiente escolar enquanto local seguro e agradável. O objetivo geral deste estudo foi implementar e avaliar um programa de intervenção antibullying em uma comunidade escolar. Com um desenho de pesquisa de métodos mistos, foi estruturado o Programa Antibullying de Educação em Saúde, PATES. A abordagem quantitativa foi utilizada para dimensionar a ocorrência do bullying e sua associação com os constructos de apoio social e senso de comunidade escolar, no momento pré e pós programa. A abordagem qualitativa, que subsidiou o desenvolvimento do PATES, foi embasada por uma estratégia de educação e saúde guiada pelo referencial teórico e metodológico freireano em diálogo com o modelo da community-based participatory research. Os procedimentos de análise dos dados incluíram: análise estatística descritiva, inferencial e comparativa, bem como a filmagem, a fotografia e a observação com registro em diário de campo. Para estabelecer uma compreensão mais ampla dos processos interativos do contexto social para a exacerbação das práticas de bullying e a percepção dos atores diante do fenômeno, foi empregada a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano de Urie Bronfenbrenner. O impacto do programa de intervenção foi analisado pelas seguintes variáveis: frequências de vítimas, agressores e vítimas-agressoras, apoio social percebido e senso de comunidade. Participaram da fase quantitativa 294 adolescentes do ensino fundamental II, com idades entre 10 e 19 anos. Foram realizados dois Círculos de Cultura com 30 professores e quatro para a formação de 12 adolescentes protagonistas. A abordagem educativa desencadeou um processo de conscientização e o protagonismo dos participantes para a elaboração e implementação do PATES, rompendo com a naturalização da violência entre os pares e vislumbrando possibilidades de intervenção e transformação no ambiente escolar, mediante a apresentação de propostas arrojadas que modificam a lógica das relações e dos processos educativos na escola, ao deliberarem ações intersetoriais e colaborativas no enfrentamento e prevenção do bullying. A curto prazo, o PATES foi capaz de modificar o percentual de estudantes incluídos na categoria vítimas e/ou vítimas-agressoras (p=0,001). Houveram decréscimos dos tipos de bullying verbal (pôr apelidos e nomes pejorativos) (p=0,031), verbal (ofensas pela cor/raça) (p=0,013) e psicológico (amedrontar e pôr medo) (p=0,019). No momento pós programa, evidenciou-se melhora dos escores referentes ao apoio social tanto geral (p=0,001), como por fatores: apoio da família (p=0,001), amigos (p=0,031), professores (p=0,001) e outros (p=0,001). Já em relação ao senso de comunidade houve pequeno aumento dos escores, tanto geral quanto por fatores, após a intervenção, porém, não significante. Os dados encontrados corroboraram a hipótese de que uma intervenção, envolvendo toda a comunidade escolar, assegurando o protagonismo dos adolescentes e dos professores nas ações antibullying e com a parceria da rede local de saúde, favoreceu a minimização do comportamento agressivo e da vitimização entre os escolares.