O ponto de vista da vacuidade como experiência de pensamento : notas para uma ética da Não-dualidade na Educação

Abstract

Nas últimas décadas, observou-se que a relação entre Filosofia e Educação tendeu a desvanecer-se. E aquela forte tendência de uma práxis filosófica articulada a uma intenção pedagógica cedeu espaço para um exercício puramente lógico, desvinculado de qualquer preocupação de natureza formativa. Somando-se a isso, há muito que o campo da filosofia da educação brasileira insiste em privilegiar uma única e mesma mente para pensar os problemas da práxis educativa: a mente antropológica filosófica moderna. Diante deste cenário, fez-se necessário ampliar o alcance do campo em direção a outros modos de pensar, para além do mainstream reconhecido pela Filosofia Ocidental, de modo a superar o abismo entre Filosofia e Educação. Nesse sentido, a proposta da presente Tese consistiu em apreender a emergência de outras filosofias historicamente marginalizadas pelo campo filosófico-educacional, a fim de pensar outramente o debate acerca da Formação Humana. Não casualmente, a pesquisa mobilizou um diálogo interfilosófico entre Budismo e Educação, assumindo como principal chave de leitura e fio articulador de sua proposta a noção de Vacuidade presente no projeto filosófico-espiritual de Nagarjuna. Com base nessa proposta, o objetivo mais amplo deste trabalho consistiu em apresentar e problematizar a escola filosófica de Nagarjuna, explicitando o ponto de vista da vacuidade, a fim de defender outra compreensão da Formação Humana. Para tanto, a Tese foi elaborada por meio de uma investigação de caráter teórico-bibliográfico, conferindo à inspiração a dignidade de um método. Por meio desse recurso de pesquisa inspirado no Vazio, os resultados mostraram que a noção de Vacuidade proposta por Nagarjuna pode ser elevada à nova potência quando corporificada nos gestos de um mestre indiano do século VIII chamado Guru Padmasambhava. Através da análise da vida de Guru Rinpoche, foi possível constatar que o Ponto de Vista da Vacuidade não é uma teoria meramente cognitiva. Antes, trata-se de uma experiência de pensamento capaz de alterar nossa maneira de ser e estar no mundo. Assim, para falar de espiritualidade, no contexto da perspectiva da vacuidade, é preciso abandonar a dimensão estritamente representacional do conhecimento. Constatou-se, ainda, que o Ponto de Vista da Vacuidade pode abrir novos meios de percepção do ato educativo ao alterar o modo de problematização de algumas categorias que parecem ser imprescindíveis nos processos pedagógicos contemporâneos, tais quais: 1) a Infância, 2) os Fenômenos Instáveis, 3) a Experiência e o saber da experiência e 4) a Alteridade, os outros da educação. Ao articular a Vacuidade Nagarjuniana com a Pedagogia do Tantra de Guru Rinpoche, a Tese contribuiu para potencializar o aspecto pedagógico desse pensamento. Mais do que isso, ao colocar em evidência uma experiência de pensamento não- ocidental, a pesquisa abriu um ethos de escuta a outros pontos de vista, comprometendo o campo filosófico-educacional com a superação de discursos e práticas duais que historicamente contribuíram para fazer perpetuar a lógica da colonialidade dos saberes.