Saneamento básico e toxoplasmose gestacional em Pernambuco (2019- 2024)

Abstract

A toxoplasmose é uma infecção causada pelo protozoário Toxoplasma gondii (T. gondii) e representa um importante problema de saúde pública. Sua transmissão ocorre por meio da ingestão de alimentos ou água contaminados, contato com fezes de gatos infectados ou por via vertical. No Brasil, segundo o Instituto Adolfo Lutz, aproximadamente um em cada três brasileiros está infectado pelo T. gondii, sendo que aproximadamente 20 a 50% das mulheres em idade fértil são suscetíveis à infecção durante a gestação. Este estudo tem como objetivo analisar a situação da toxoplasmose gestacional e sua relação com o saneamento básico em Pernambuco, no período de 2019 a 2024. Trata-se de um estudo ecológico, com base em dados secundários extraídos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação, do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento e do Censo Demográfico de 2022 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Os dados foram organizados e tratados utilizando-se os softwares R e Microsoft Excel. A metodologia envolveu a análise de variáveis relacionadas à prevalência da toxoplasmose gestacional e aos indicadores de saneamento básico: cobertura de abastecimento de água e coleta de esgoto. Foram aplicadas as técnicas estatísticas: Regressão de Poisson, análise espacial com o Índice de Moran (Moran's I) e Regressão Geograficamente Ponderada (GWR), a fim de identificar padrões e relações locais entre as variáveis. Os resultados mostraram aumento significativo dos casos de toxoplasmose gestacional em Pernambuco entre 2019 e 2024, com destaque para o ano de 2022, que registrou os maiores índices de incidência e prevalência. A maioria das gestantes afetadas tinha entre 20 e 39 anos, era parda e com ensino médio completo, com diagnóstico predominante no terceiro trimestre e taxa de cura de 67,53%. Verificou-se regressão negativa entre saneamento básico e a incidência da doença, com o acesso à água mostrando maior impacto na redução da infecção. O Moran's I identificou que municípios vizinhos têm taxas de toxoplasmose parecidas entre si, e o modelo GWR revelou que os efeitos do saneamento variam regionalmente, sendo mais fortes no interior do estado. O estudo evidenciou que a combinação entre fatores socioambientais, urbanização e infraestrutura de saneamento exige intervenções integradas e territoriais para reduzir a carga da toxoplasmose gestacional.