Avaliação dos efeitos da manipulação serotoninérgica nas áreas centrais autonômicas de ratas supernutridas durante a lactação

Abstract

A obesidade, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como uma epidemia global, está associada a uma complexa interação de fatores genéticos, ambientais e comportamentais. Este estudo investigou os efeitos da supernutrição neonatal, em um modelo experimental que mimetiza a obesidade precoce, e avaliou o potencial terapêutico da modulação serotoninérgica utilizando fluoxetina (FX). Para tanto, foram utilizadas ratas Wistar, cujas ninhadas foram padronizadas em Normonutridas (9 filhotes por ninhada) e Supernutridas (3 filhotes por ninhada) no terceiro dia pós-natal. Os grupos experimentais incluíram a prole fêmea tratadas com salina (SS e NS) ou FX (SF e NF) do 3o ao 21o dia de vida. Os resultados demonstraram que a supernutrição neonatal (grupo SS) levou a um aumento significativo do peso corporal e do índice de Lee aos 30 dias de vida, indicativo de obesidade. Esse grupo também apresentou maior consumo de alimentos palatáveis e labina, sugerindo alterações no comportamento alimentar. Além disso, observamos um perfil metabólico desfavorável, com elevação dos níveis de glicose e colesterol total. A intervenção com FX no grupo SF reverteu parcialmente esses efeitos, normalizando o índice de Lee e melhorando os parâmetros metabólicos. A nível molecular, a supernutrição provocou redução do conteúdo de NADH no hipotálamo e diminuição da atividade da enzima citrato sintase, indicando comprometimento do metabolismo energético. Essas alterações foram acompanhadas por um aumento do estresse oxidativo, evidenciado pela elevação das espécies reativas de oxigênio (EROS), oxidação de proteínas e malondialdeído (MDA). Notavelmente, o tratamento com FX atenuou significativamente esses danos, restaurando os níveis de NADH, aumentando a atividade de enzimas antioxidantes (como catalase e SOD) e elevando os níveis de glutationa reduzida (GSH). No tronco encefálico, os efeitos protetores da FX foram ainda mais pronunciados, com aumento da atividade da enzima citrato sintase e redução dos marcadores de estresse oxidativo. Além disso, a expressão do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) foi significativamente maior nos animais tratados com FX em ambos os tecidos analisados, sugerindo um possível mecanismo neuroprotetor. Em conclusão, este estudo demonstrou que a supernutrição neonatal induz alterações metabólicas, oxidativas e comportamentais semelhantes às observadas na obesidade. A modulação serotoninérgica com fluoxetina mostrou-se eficaz em atenuar esses efeitos nas ratas supernutridas, melhorando o perfil metabólico, reduzindo o estresse oxidativo e promovendo a neuroproteção via aumento do BDNF.