Relação entre qualidade da água e integridade da mata ciliar de um trecho de um rio da região do semiárido nordestino

Abstract

O desmatamento das matas ciliares, a ausência de saneamento básico, o uso e ocupação desordenado do solo nas bacias hidrográficas, além dos impactos naturais da bacia, são algumas das principais razões da deterioração dos corpos hídricos brasileiros. No Semiárido Nordestino Brasileiro, essa problemática é igualmente alarmante, uma vez que os longos períodos de escassez impactam diretamente a disponibilidade e distribuição hídrica. O presente estudo tem como objetivo investigar a relação entre as condições de área de mata ciliar e a qualidade da água ao longo de um trecho de um rio intermitente do interior do Ceará. Para isso, são utilizados dados de análises físico-químicas, microbiológicas e de microplásticos, além de técnicas de sensoriamento remoto aplicadas ao mapeamento da cobertura vegetal (NDVI). Os resultados evidenciaram uma correlação positiva moderada (r=0,4) entre a cobertura vegetal da mata ciliar e os níveis de oxigênio dissolvido, sugerindo que a vegetação ripária pode funcionar como um indicador da saúde ambiental dos corpos d’água. O trecho correspondente a canalização do Rio Grangeiro e as áreas mais urbanizadas não atendem às exigências legais do Código Florestal (Lei no 12.651/2012), comprometendo funções ecológicas essenciais, como a proteção contra assoreamento e a filtragem de poluentes. Os índices ambientais IPI e NDVIrel indicaram que a nascente e o início da cidade de Missão Velha, obtiveram melhores condições de equilíbrio ambiental, por serem áreas menos urbanizada, enquanto os piores indicadores concentraram-se em Crato, onde a mata ciliar é praticamente inexistente. A qualidade da água mostrou-se constante entre os períodos sazonais, o que sugere fontes contínuas de poluição. No tocante à análise de microplásticos e substâncias associadas, no trecho estudado destacaram-se as substâncias orgânicas, muitas delas associadas a atividades industriais e alimentícias, e em seguida os polímeros, sendo o Sulfeto de Polifenileno (PPS) o mais prevalente, contribuindo de forma expressiva para a poluição terrestre e marinha.