Proposta de aplicação didática para monitoramento de variáveis socioambientais favoráveis à proliferação da dengue em Recife - Pernambuco

Abstract

A dengue representa um persistente desafio à saúde pública no Recife, cuja dinâmica é influenciada por complexas interações socioambientais. Este trabalho teve como objetivo geral analisar a distribuição espacial e temporal das notificações de casos de dengue no município do Recife (PE) entre 2013 e 2024, investigando possíveis correlações com variáveis como precipitação pluviométrica e alterações no uso e cobertura da terra e, a partir dessa análise, desenvolver uma proposta de aplicação didática para o ensino de Geografia na Educação Básica. A metodologia envolveu a coleta e tratamento de dados secundários, para o período de 2013 a 2024, provenientes do Portal de Dados Abertos da Prefeitura do Recife (casos de dengue), da Agência Pernambucana de Águas e Climas - APAC (precipitação) e da plataforma MapBiomas (uso e cobertura da terra e desmatamento). Os dados foram analisados por meio de técnicas de geoprocessamento em ambiente SIG (QGIS) e análise estatística descritiva. Os resultados evidenciaram a heterogeneidade espaço-temporal da doença, com concentração recorrente de casos em bairros socioambientalmente vulneráveis, como Cohab, Ibura e Várzea, sugerindo que a desigualdade socioespacial é um fator determinante. A relação entre precipitação e incidência de dengue mostrou-se complexa e não linear ao longo da série histórica, sendo a ausência dos dados de precipitação por bairros uma informação que poderia contribuir para o maior refinamento da análise. Não foi identificada correlação direta e significativa entre a dinâmica anual de uso e cobertura da terra (incluindo desmatamento) e a variação no número de casos notificados nos anos específicos analisados. A proposta didática elaborada, alinhada à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), utiliza a construção de um pluviômetro alternativo como ferramenta para engajar os estudantes no monitoramento local e na análise crítica da relação entre clima, ambiente urbano e saúde pública. Concluiu-se que, entre 2013 e 2024, a incidência da dengue no Recife não apresentou padrão de correlação com dados de precipitação e de desmatamento, resultado que pode estar relacionado à carência de dados em escala espacial de detalhe (por bairro). Considerou-se que a abordagem geográfica é fundamental para compreender a complexidade da dengue no espaço urbano recifense e que o ensino de Geografia, por meio de atividades contextualizadas, pode contribuir significativamente para a formação de cidadãos conscientes e participativos frente aos desafios socioambientais.