Resposta comportamental dos papagaios-verdadeiros (amazona aestiva) a objetos novos

Abstract

O papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), classificado como Quase Ameaçado (NT), sofre intensa pressão devido à caça e ao comércio ilegal da fauna silvestre. Essa situação resulta em um elevado número de apreensões e resgates, contribuindo para a superlotação nos Centros de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres no Brasil. A avaliação comportamental dos indivíduos é de suma importância para o processo de reabilitação desses animais, pois ajuda a identificar comportamentos disfuncionais adquiridos em cativeiro e avaliar a presença de comportamentos essenciais à sobrevivência e à reintegração ao ambiente natural. Este estudo objetivou investigar o comportamento exploratório de papagaios-verdadeiros (Amazona aestiva) frente à introdução de estímulos novos, um objeto de origem artificial (“hashitampa”, objeto produzido pelos pesquisadores do estudo) e um de origem natural (galhos com folhas de azeitona-roxa) . Investigamos se os papagaios apresentam diferentes níveis de interação com os dois objetos e se há influência sexual nessa interação. A pesquisa foi realizada no Centro de Triagem de Animais Silvestres Tangara do Estado de Pernambuco, com 27 indivíduos, sendo 12 fêmeas, 13 machos e 2 indivíduos com sexo não definido. Os animais foram expostos individualmente aos dois estímulos com intervalo de pelo menos 40 minutos. As interações foram registradas por meio de gravações em vídeo e posteriormente analisadas utilizando o método de observação ad libitum (Altmann, 1974), a partir do qual foi elaborado o etograma. Identificamos quatro comportamentos de interação com os objetos: afastar-se, aproximar-se, tocar e manipular, categorizados em interações negativas (i.e., afastar-se) e positivas (os demais comportamentos). Não houve diferença na frequência total de interações entre os dois objetos. Houve diferença com relação às frequências de interações negativas: os papagaios-verdadeiros se afastaram do objeto artificial com maior frequência do que do objeto natural. Esse resultado indica uma possível aversão inicial aos estímulos artificiais, mesmo que esses indivíduos ainda tenham interagido em outras ocasiões com esse tipo de objeto. Não foram encontradas diferenças entre machos e fêmeas em relação às interações totais, positivas ou negativas. Isto mostra que o sexo dos indivíduos não exerce influência sobre a forma como os papagaios interagem com estímulos novos. Ainda assim, a ausência de preferência entre os objetos e a semelhança nas respostas entre os sexos sugerem uma estratégia exploratória generalista, refletindo a plasticidade comportamental dos psitacídeos. Os achados deste estudo contribuem para o entendimento do comportamento de Amazona aestiva em processo de reabilitação.