Efeitos da exploração pesqueira na dinâmica populacional do tubarão rabo-seco (Rhizoprionodon porosus) e da serra (Scomberomorus brasiliensis): variações espaço-temporais na plataforma continental de Pernambuco

Abstract

Dados do governo brasileiro indicam que apenas uma parte relativamente pequena da produção pesqueira regional é adequadamente monitorada. Essa limitação pode contribuir para diversos problemas, como a captura incidental e a sobrepesca, afetando tanto espécies-alvo quanto a fauna acompanhante. Neste estudo, abordou-se a captura incidental do tubarão rabo-seco Rhizoprionodon porosus na pesca que tem como alvo principal a serra, Scomberomorus brasiliensis, em redes de emalhe na pesca de pequena escala no litoral de Pernambuco, nordeste do Brasil. Para entender esse cenário, foram comparadas duas décadas, nos anos de 2010 a 2011 e 2021 a 2022, em que foram analisados 72 lances de pesca contendo 709 indivíduos, sendo 166 tubarões e 543 serras. Indicadores baseados em comprimento foram utilizados, com a classificação dos indivíduos em juvenis, adultos sub Lopt (abaixo do tamanho ideal de captura), adultos no Lopt, e Mega- reprodutores (MS). Foi possível observar que a frequência relativa da proporção dos animais em relação aos anos diminuiu consideravelmente para a serra e aumentou para o tubarão. Uma PERMANOVA evidenciou diferença significativa para o comprimento da serra entre períodos, mas para o tubarão não houve variação. Em relação à profundidade, nossos resultados indicam variações notáveis para ambas as espécies. No geral, os padrões encontrados são preocupantes tanto para a serra quanto para o tubarão rabo-seco, já que ambos são pescados em elevadas proporções nas fases abaixo do Lopt. Para a serra, não foram observados MS e apenas um indivíduo estava na faixa de Lopt, indicando que a população está sendo explorada de forma desordenada nos dois períodos, apesar do aumento no comprimento médio. Para o tubarão rabo-seco, apesar de não terem sido observadas diferenças significativas no comprimento dos indivíduos entre os períodos analisados, o que sugere uma estabilidade no padrão de exploração dessa espécie, os dados indicam um aumento expressivo na frequência relativa de ocorrência nos lances, revelando uma provável pressão crescente sobre a população mesmo diante da aparente constância em seus comprimentos de captura. Em relação a profundidade, os padrões de captura no nosso estudo provavelmente são explicados por padrões de comportamento e uso do habitat distintos pelas duas espécies, onde o tubarão rabo-seco adulto ocorre em locais mais fundos e a serra, em locais mais rasos. Possíveis mudanças de interação de frota, hábitos alimentares e reprodutivos das espécies também podem influenciar de forma direta nos padrões de captura encontrados. A pesca de emalhar, caracterizada pela baixa seletividade, junto à sobreposição de habitats, tamanho corporal semelhante e comportamento trófico relativamente similar torna o tubarão tão suscetível à pesca de emalhar quanto a serra, evidenciando um padrão de exploração provavelmente constante e pouco controlado de elasmobrânquios. Com isso, surge a necessidade de incorporar variáveis ambientais no manejo pesqueiro, além da urgência de desenvolver estratégias específicas que considerem a dinâmica espaço-temporal das espécies, visando reduzir os impactos sobre juvenis e tentando assegurar a sustentabilidade da exploração pesqueira.