Análise sociomaterial dos espaços de ensino-aprendizagem na Educação Superior em um curso de formação de professores/as de Química

Abstract

Esta pesquisa sociomaterial teve o objetivo de identificar como os/as professores/as de Química, em um curso de formação docente, concebem e projetam as atividades nos espaços de ensino-aprendizagem e de que forma os elementos não humanos agenciam essas práticas. Em vista disso, incorporamos, entre as referências teórico-metodológicas, a Teoria dos Emaranhados (Hodder, 2012) e as Teorias da Espacialidade (Nespor, 1994; Urry, 2007), que emergem do campo da Sociomaterialidade (Fenwick, Sawchuk, Edwards, 2011; Fenwick; Edwards, 2013). Nesta perspectiva, a Sociomaterialidade parte do princípio de que toda realidade é permeada por sentidos — e estes sentidos nos fazem interagir com as coisas e com outras pessoas, em um movimento de co-dependência. Posto isso, essas referências consideram que as pessoas, as coisas, as tecnologias e os ambientes se entrelaçam, criando teias emaranhadas que se situam espacial e temporalmente e são imbuídas de relações de agência, contingência e affordances. Nesse sentido, realizamos entrevistas semiestruturadas com seis (6) professores/as no ano de 2024, para compreender as influências dos arranjos espaciais nas práticas destes/as participantes durante o processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, analisamos os dados por meio da Análise Textual Discursiva (Moraes, Galiazzi, 2011), que consistiu em cinco importantes etapas: (1) transcrição das entrevistas; (2) desconstrução dos textos transcritos em pequenas frases ou parágrafos; (3) elaboração de unidades de análise; (4) organização das categorias e subcategorias, em vista do encadeamento de informações nas unidades de análise; e (5) produção do metatexto, que culminou em novas compreensões. A partir disso, foi possível observar uma teia emaranhada em que o curso de Química-Licenciatura atua como um elemento central e mobilizador de práticas e vivências. Nesta teia, incluem-se outros elementos, que fazem parte dos resultados desta pesquisa e que agenciam as práticas do curso, como, por exemplo: o planejamento é uma ação contínua dos/as professores/as; o perfil dos/as estudantes impacta diretamente na prática docente, de maneira que eles/as têm adotado metodologias ativas e instrumentos avaliativos flexíveis. Além disso, a forte influência dos arranjos espaciais — especialmente quando equipamentos ou recursos não funcionam ou não estão disponíveis — reconfigura totalmente as práticas no curso. Da mesma forma, a infraestrutura, no que diz respeito à dificuldade de conexão com a internet nas dependências da universidade, prejudica a interação do corpo docente e discente com as Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação. O fator design também tem sido um critério importante para a adoção das plataformas virtuais, como o Google Classroom e o Google Drive, com exceção da plataforma de gestão acadêmica adotada pela instituição, que é obrigatória. Por fim, destaca-se

que esse estudo abre possibilidades para utilizar a lente teórica da Sociomaterialidade no movimento de investigar os fatores e as influências no campo do Ensino de Ciências, que ainda tem sido pouco explorado a nível nacional e internacional.