O Bacamartismo contemporâneo : uma análise do discurso do DSM-5-TR sobre as noções de ciência, diagnóstico e transtornos mentais

Abstract

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), elaborado pela American Psychological Association (APA), é amplamente utilizado no campo da saúde mental, especialmente na psiquiatria, para diagnosticar transtornos mentais. Atualmente, em sua quinta edição revisada (DSM-5-TR), o manual inclui mais de 300 diagnósticos, abrangendo diversas áreas da vida humana. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 1 bilhão de pessoas se enquadram nos critérios diagnósticos do DSM (Ministério da Saúde, 2020), evidenciando sua forte influência na forma como compreendemos a saúde mental. Embora o DSM se apresente como neutro e guiado pelas ciências biológicas, a análise de suas sucessivas edições revela alterações nas categorias diagnósticas e nas interpretações dos sintomas. Isso indica a presença de valores e ideologias que moldam o discurso sobre o sofrimento psíquico, repercutindo tanto no campo profissional quanto no social. Tal discurso afeta, por exemplo, o aumento significativo do uso de medicamentos para tratar os transtornos descritos, conforme apontado pelo Conselho Federal de Farmácia, que registrou um crescimento de 58% nas vendas de psicofármacos entre 2017 e 2021 (Rocha, 2023). Com base na teoria da Análise do Discurso de Michel Pêcheux, esta dissertação investiga o DSM-5-TR como um discurso sobre ciência, diagnóstico e transtornos mentais. O objetivo é analisar como essas noções são definidas e inter-relacionadas, além de explorar os efeitos de sentido que emergem desse discurso, especialmente no que se refere às concepções de saúde mental e à crescente medicalização do sofrimento psíquico.