Resíduos de agrotóxicos em óleos vegetais e tecnologias de processamento : uma revisão integrativa

Abstract

O consumo global de óleos vegetais tem aumentado significativamente, impulsionado por seus benefícios nutricionais, como a presença de ômega 3 e 6 e o auxílio na absorção de vitaminas. No entanto, a produção em larga escala desses óleos frequentemente envolve o uso intensivo de agrotóxicos, o que gera preocupações sobre a contaminação desses produtos. A presença de resíduos de agrotóxicos em óleos vegetais é um motivo de preocupação devido aos potenciais riscos à saúde dos consumidores, especialmente para aqueles de natureza apolar. Alguns agrotóxicos têm a capacidade de se acumular no organismo humano, podendo causar efeitos tóxicos e até mesmo cancerígenos. O processamento dos óleos vegetais pode ter um impacto significativo na presença e na concentração de resíduos de agrotóxicos no produto. Algumas etapas do processamento podem ajudar a reduzir os níveis de resíduos, enquanto outras podem levar a sua concentração. Ainda não há clareza a respeito do impacto dos processos, como a extração e refino, na presença de resíduos de pesticidas em óleos vegetais. Assim, objetivo deste estudo foi elaborar uma revisão integrativa a fim de identificar na literatura recente informações sobre o nível de contaminação de óleos vegetais por resíduos de agrotóxicos, o impacto do processamento tecnológico sobre estes, e relacionar variáveis que influenciam na permanência ou não de resíduos e potenciais riscos à saúde. Realizou-se uma revisão do tipo integrativa, a partir de artigos de pesquisa obtidos das bases de dados PubMed, SpringerLink, Web of Science, Scopus e ScienceDirect, dos últimos 5 anos. Utilizou-se metodologia baseada no Fluxograma PRISMA 2020 para revisões sistemáticas para seleção de artigos. Ao final da busca eletrônica, foram incluídos 25 artigos, a maioria realizado na China e tendo o azeite como matéria-prima mais investigada, em que 18 tratavam da identificação e quantificação de agrotóxicos em óleos vegetais e 8 investigaram a relação do processamento tecnológico do óleo aos níveis de resíduos, identificando variáveis relacionadas à contaminação. Verificou-se que o processamento pode interferir na migração e concentração de resíduos de agrotóxicos em óleos e algumas variáveis estão envolvidas: formas de contaminação da matéria-prima, características físico-químicas dos agrotóxicos, temperatura de processamento e técnicas de extração. A extração a frio foi o método que proporcionou maior migração e níveis de resíduos, porém esta depende da natureza química dos compostos e propriedades como solubilidade, grau de lipofilicidade, pressão de vapor e ponto de fusão. Identificou-se que a maioria dos trabalhos investigou a presença de organoclorados, que embora proibidos, possuem a característica de resistir à degradação, além de bioacumulação e biomagnificação. Ao avaliar o risco à saúde (n=6), embora os níveis de resíduos de agrotóxicos geralmente estejam dentro dos limites máximos permitidos pelas regulamentações, a contaminação é frequente, e em alguns casos, a exposição pode representar um risco à saúde, especialmente para grupos populacionais mais vulneráveis, como crianças. Assim se faz necessária a continuidade de investigações, com enfoque nas etapas de refino de óleos vegetais e nas avaliações de risco à saúde mediante exposição à população.