Em nome do espírito obsceno : a influência do dispositivo pornográfico no cinema queer/cuir brasileiro contemporâneo

Abstract

Neste trabalho, me proponho a compreender de que modo o dispositivo pornográfico se manifesta naquele cinema que é entendido como cinema queer. De tal forma, traço uma historiografia da relação desse dispositivo com a arte ao longo dos anos, a fim de demonstrar suas manifestações estéticas e a relação com a sociedade. Pretendo buscar a figura da/o artista pornógrafo/a, movido por um espírito obsceno, nos filmes aqui analisados, a saber: “A Rosa Azul de Novalis” (Gustavo Vinagre e Rodrigo Carneiro, 2018, Brasil), “Nova Dubai” (Gustavo Vinagre, 2014, Brasil) e “Vênus de Nyke” (André Antônio, 2021, Brasil). Disserto sobre as pesquisas dos estudos pornô para afirmar que certos autores, como Sade e Sacher-Masoch, não são meros pornógrafos, que escrevem pornografia, mas pornólogos — o que também é perceptível nos cineastas aqui trabalhados. Através das análises fílmicas, é possível traçar um caminho de identificar nos filmes, pertencentes ao cenário do cinema queer/cuir brasileiro contemporâneo, uma produção pedagógica dos desejos (SARMET; BALTAR, 2016) no corpo/sujeito espectador. A partir do uso de cenas extremas (que dialogam com uma estética grotesca, obscena), penso nesse diálogo dos diretores com seus espectadores como um convite a uma sensibilidade pornográfica, como mestres pornógrafos que são. Por fim, esta pesquisa pretende compreender como esse cenário recente vem subvertendo, através de seus filmes, uma pornogramática (GÍMENEZ, 2020) hegemônica e heteronormativa.