Apoio da rede social e o transtorno do estresse pós-traumático em mulheres com câncer de mama

Abstract

O câncer de mama possui alta incidência mundial e, no seu tratamento, tem sido utilizada quimioterapia como alternativa de melhora no prognóstico, porém as reações adversas ocasionam alterações de saúde mental e podem oportunizar o Transtorno de Estresse Pós- Traumático (TEPT). Dentre as intervenções para redução desse transtorno, destaca-se o apoio da rede social que pode ser mobilizado a partir das ações de educação em saúde e do cuidado longitudinal à mulher pelo enfermeiro. O objetivo deste estudo foi avaliar a associação do apoio da rede social e a incidência de TEPT em mulheres com câncer de mama na quimioterapia. Trata-se de um estudo de coorte prospectivo aberto com grupo único realizado em duas etapas: 1) construção e validade do instrumento de avaliação do apoio da rede social de mulheres com câncer de mama em tratamento quimioterápico embasado na Teoria das Redes Sociais de Sanicola; 2) avaliação do apoio da rede social das mulheres durante a quimioterapia e associação com os sinais e sintomas relacionados ao TEPT. Na primeira etapa, participaram dez juízes para validade de conteúdo, através da Técnica de Grupo Nominal, e oito mulheres para avaliação semântica do instrumento. Na segunda etapa, ocorreu seguimento da coorte com 234 mulheres com câncer de mama que foram expostas às avaliações do início ao terceiro mês da quimioterapia, através do uso do instrumento construído e validado, do Post-Traumatic Stress Disorder Checklist- Civilian Version e do instrumento de dados sociodemográficos e clínicos. Não houve perdas amostrais e foram consideradas as variáveis relacionadas ao TEPT, a avaliação do apoio da rede social e dados sociodemográficos e clínicos no processo de associação. Utilizou-se modelo multivariado para cruzamento das variáveis de interesse e estimaram-se os riscos de desenvolvimento de TEPT através da aplicação do modelo Generalize Estimate Equation com significância na análise final de 5%. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco e do Hospital das Clínicas da universidade referenciada. Na etapa de validade do conteúdo, o instrumento apresentou Coeficiente de Validade de Conteúdo de 0,94 para clareza; de 0,95 para pertinência e de 0,93 para relevância dos itens. Na coorte, a incidência de TEPT foi maior ao terceiro mês do tratamento (p= <0,001) quando associado aos tumores triplo-negativo e à realização de tratamentos em saúde mental. O aumento do apoio não esteve associado com desenvolvimento de TEPT ao longo do tempo (p= 0,123), porém indicou que seu aumento está relacionado a um maior risco influenciado pelo apoio presencial, com aumento de 51,1%, e do autoapoio, com aumento de 60,6%. O aumento dos apoios emocional e instrumental indicou proteção e o apoio informativo não se mostrou associado com TEPT. A associação do TEPT e o apoio da rede social permitiu reconhecer os fatores relacionados à incidência do transtorno e os aspectos relacionados ao apoio oferecido à mulher com câncer de mama durante a quimioterapia. Recomenda-se realizar estudos que garantam maior compreensão da rede social durante a quimioterapia e que instrumentem o cuidado contra o transtorno.