O ensino da leitura e da escrita: estratégias metodológicas de professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental para lidar com a heterogeneidade

Abstract

Essa pesquisa objetivou conhecer, mapear e analisar estratégias didáticas para o ensino do Sistema de Escrita Alfabética e de leitura nos anos iniciais do Ensino Fundamental, para lidar com a heterogeneidade dos conhecimentos dos estudantes. Por se tratar de uma pesquisa-ação no campo do mestrado profissional, esse estudo também teve como objetivo elaborar a partir dos dados coletados e da reflexão docente sobre a sua prática, um produto de formação feito, com e para os professores. Na busca por responder o objetivo investigativo foi realizado um estudo de campo por meio de entrevistas semiestruturadas, avaliações diagnósticas e finais, observações das aulas com anotação em diário de campo e vídeogravação, minientrevistas pós aulas e entrevista de autoconfrontação simples. A pesquisa aconteceu nas turmas do 2o, 3o e 5o anos do Ensino Fundamental, em uma escola da Rede Municipal do Recife. O estudo teve como base teórica os estudos sobre alfabetização na perspectiva do letramento, como Soares (2008; 2017; 2022), Leal (2005; 2006; 2013; 2022) e Moraes (2012), assim como os recentes estudos sobre heterogeneidade e educação de Leal, Sá e Silva (2018) e Leal e Pessoa (2023). Os resultados evidenciaram que a Professora A do 2o ano foi a docente que mais realizou atividades e ações voltadas para o ensino do Sistema de Escrita Alfabética e de leitura, tendo o SEA mais tempo pedagógico. A Professora B do 3o ano e a Professora C do 5o ano, durante as observações, destinaram um tempo pedagógico mais reduzido para o SEA e para a leitura. Este dado pode ter sido evidenciado pelas características e objetivos de uma turma do 2o ano, assim como pela formação e experiência voltada para o ciclo de alfabetização da docente regente do 2o ano. Os dados também mostraram que as três professoras variaram pouco os recursos didáticos; não usaram jogos de alfabetização e apenas a professora do 2o ano usou uma vez um livro literário. Essas escolhas e não escolhas podem ter refletido no avanço da apropriação do SEA. Sobre isso, os dados apontam para a necessidade de que as políticas de formação de professores favoreçam a reflexão sobre atividades e intervenções necessárias para atender às necessidades de aprendizagem de crianças que estejam em cada nível de escrita. Assim como, a necessidade de incluir professores dos 4o e 5o anos em encontros de formação focados na dimensão da alfabetização, pois esta não tem sido uma demanda apenas do ciclo de alfabetização. Em relação à leitura, os resultados evidenciaram que, apesar das professoras trabalharem dimensões importantes relativas à fluência de leitura, à exceção da Professora do 2o ano, não foram identificadas situações variadas de práticas que aproximassem as crianças das situações de leitura que são vivenciadas fora da escola. Tal dado nos fez refletir sobre a progressão das aprendizagens dos estudantes que consolidam o sistema alfabético. Nossos dados também dialogam com as discussões sobre heterogeneidades sociais e mostram, através de um caso, como estas podem refletir na heterogeneidade de conhecimentos. Ademais, sobre as estratégias para lidar com a heterogeneidade de conhecimento, essa pesquisa evidenciou que a forma como as professoras lidavam, em sua maioria, com a heterogeneidade de conhecimentos da turma, era por meio das mediações diferenciadas na execução das atividades e que estas também se encontravam presentes nas atividades por elas propostas, porém, em um quantitativo bem menor. A partir das reflexões oriundas da investigação foi elaborado um Produto Educacional (P.A.) que constou de uma websérie com relatos e reflexões sobre o tema. Nossa intenção é que possamos contribuir com um importante instrumento formativo para professores da educação básica.