Efeito protetor da fertilidade do extrato metanólico das folhas de Cenostigma microphyllum frente ao bicloreto de mercúrio (HgCl2) em modelo experimental in vitro e in vivo

Abstract

A intoxicação por mercúrio (Hg) é um problema de saúde global, difícil de diagnosticar devido à ausência de sintomatologia clara e métodos de análise acessíveis. A contaminação pode ocorrer de forma natural ou antropogênica, como no caso do garimpo ilegal, especialmente na região Yanomami, no Brasil. O Hg é um disruptor endocrínico que afeta o eixo hipotálamo-hipófise-gônada, desregulando o sistema de oxido-redução e causando estresse oxidativo, o que prejudica os gametas e pode ser um fator etiológico da infertilidade, especialmente masculina, que representa 50% dos casos. A população Yanomami, está vivenciando uma situação sanitária crítica e essa também possui uma renda per capita equivalente a 1 ou meio salário mínimo e enfrenta dificuldades de acesso a tratamentos de saúde básicos. Como alternativa, tem-se considerado o uso de fitoterápicos, como a Aloe vera, que já é utilizada pelas populações locais para tratar infecções genitais, como a prostatite bacteriana. No entanto, ainda não há estudos que comprovem os efeitos protetores dessas e de outras plantas pouco investigadas, no que diz respeito à fertilidade em casos de intoxicação por mercúrio. Com isso, o trabalho tem como objetivo avaliar esse efeito, além das atividades antioxidantes, anti-ferroptótica e anti-inflamatória do extrato metanólico das folhas de Cenostigma microphyllum (EMCm), pela exposição exógena ao bicloreto de mercúrio (HgCl2) em camundongos machos (Mus musculus). Para isto, utilizou-se métodos para quantificação de antioxidantes, metabólitos secundários e sequestro de radicais, como a capacidade antioxidante total (CAT), polifenóis, captura de H2O2, OH●, DPPH e inibição do ABTS+, além das técnicas da antiproteinase, anti-hemolítica in vitro e no in vivo realizou-se a dosagem férrica testicular, o espermograma básico, com contagem total, motilidade, viabilidade e reação acrossomal e no avançado foram realizados testes de DNA, com anilina e toluidina azuis. O EMCm apresentou na concentração de 1 mg/mL valores significativos de flavonoides (66,44 ± 0,06 mgEqQ/g) e de CAT com 56,22 ± 0,00%, os quais tem a capacidade de interagir com a membrana fosfolipídica e protegê-la contra danos causados por espécies reativas de oxigênio (EROs). Isso foi evidenciado também pela inibição de 86,4 ± 0,05% da lise de eritrócitos em uma concentração de 0,25 mg/mL, indicando um caráter protetor para a bicamada e atóxico. Além disso, o EMCm se mostrou eficiente no sequestro do radical OH●, um agente central na peroxidação lipídica, com inibições de 33,8 ± 0,03% e 27,41 ± 0,03% nas concentrações de 0,5 mg/mL e 0,25 mg/mL, respectivamente. O extrato também contribuiu para a redução dos níveis de ferro total nas concentrações administradas (50-200 mg/kg), com valores de 64,64, 135,32 e 170,27 µg/dl, respectivamente. O EMCm ajudou a preservar a integridade da reação acrossomal (109,33 ± 16,51%) e contribuiu para a manutenção das histonas em 5,08 ± 0,61% na concentração de 100 mg/kg, protegendo o material genético espermático. Portanto, o EMCm pode atenuar os danos causados pela intoxicação por HgCl₂ e preservar a integridade espermática, sendo um aliado eficaz no combate à peroxidação lipídica, ferroptose e processos inflamatórios, auxiliando no combate aos fatores que desencadeiam a infertilidade masculina.