Chapada do Araripe : Uma análise espacial descritiva dos ectoparasitas envolvidos na transmissão da peste

Abstract

Introduzido no Brasil há 125 anos, o bacilo chegou durante a terceira pandemia, com os primeiros casos humanos relatados em 1899 no porto de Santos, São Paulo (SP). A peste é uma zoonose associada principalmente a roedores, transmitida por pulgas ectoparasitas, sendo Yersinia pestis seu agente etiológico. A transmissão ocorre por meio de diferentes mecanismos, ainda não totalmente esclarecidos, e a relevância de cada espécie de pulga na dinâmica da peste varia conforme a área em que está presente. A bactéria tende a se estabelecer em regiões cujas condições favoreçam sua persistência, especialmente onde há uma diversidade significativa de hospedeiros silvestres (como roedores) e vetores (pulgas). O município de Exu, por exemplo, foi considerado o epicentro da peste em Pernambuco e sede de importantes pesquisas voltadas ao controle da doença, destacando-se o foco da Chapada do Araripe entre as demais áreas de ocorrência. A Chapada do Araripe reúne características geográficas, climáticas e da fauna que influenciam tanto o estabelecimento e a perpetuação da peste quanto o surgimento de epidemias na região. Além disso, mudanças ambientais e condições de vida humana influenciam na disseminação da doença. Diante desse contexto, o presente estudo buscou descrever as populações de ectoparasitos no foco de peste da Chapada do Araripe entre 1978 e 1983, abordando a variação das espécies identificadas, a presença de Yersinia pestis entre ectoparasitos coletados em hospedeiros capturados e a distribuição espacial dessas populações durante as atividades do Programa de Vigilância e Controle da Peste (PCP). A metodologia envolveu análises descritivas e espaciais de dados de ectoparasitas contidos no acervo do Serviço de Referência Nacional em Peste (SRP) do Instituto Aggeu Magalhães (IAM) FIOCRUZ PE, a partir de gráficos produzidos no software GraphPad Prism® e mapas construídos no software QGIS. As análises revelaram a presença das espécies Polygenis sp., Xenopsylla cheopis, Ctenocephalides sp. e Pulex irritans na região da Chapada do Araripe. Essas espécies foram encontradas tanto em associação com hospedeiros específicos quanto de forma livre. Evidenciou-se, em particular, a relação entre X. cheopis e espécies sinantrópico-comensais, com destaque para Rattus rattus, e entre espécies de Polygenis e roedores silvestres, principalmente Necromys lasiurus. As análises espaciais indicaram uma ampla distribuição dessas pulgas na região, com maior intensidade nas áreas próximas à encosta do planalto, conhecidas como os sopés da Chapada do Araripe.