Dessincronização circadiana provocada pela alimentação restrita à fase de repouso e suas repercussões na expressão de genes do relógio circadiano em tecidos periféricos

Abstract

O horário da alimentação tem se consolidado como um agente sincronizador do ritmo circadiano em tecidos periféricos. Indivíduos que costumam se alimentar em horários correspondentes a fase de repouso da espécie (ex.: trabalhadores noturnos, síndrome do comer noturno, etc.), invertem os padrões adequados do ciclo alimentação/jejum, têm exibido uma dessincronização circadiana, que por sua vez, tem se mostrado como um fator de risco para o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) como diabetes e obesidade. Subjacente às expressões fenotípicas, diversos mecanismos moleculares estão envolvidos, incluindo os genes do sistema circadiano. O objetivo da presente revisão é descrever os efeitos acerca da dessincronização circadiana provocada pela alimentação na fase de repouso, sobre a expressão de genes osciladores e de genes controlados pelo relógio em tecidos periféricos e sua relação com o processo saúde-doença. O presente trabalho foi realizado no formato de revisão integrativa da literatura nas bases de dados IBECS, LILACS, MEDLINE, Scielo, Pubmed e EMBASE, sem delimitação de tempo, incluindo estudos originais com seres humanos e roedores, que respondessem a pergunta norteadora, publicados em português, inglês e/ou espanhol disponíveis na íntegra gratuitamente e que foram obtidos usando descritores, palavras-chave e sinônimos sobre o tema. Foram encontradas 2733 publicações ao total, e após o processo de seleção usando o Rayyan, foram incluídos 15 artigos no presente trabalho. Observou-se que a exposição aguda ou crônica a dessincronização circadiana causada pela alimentação na fase de repouso modificou, de formas distintas, porém significativas, mudanças no padrão de ritmicidade e/ou alteração da acrofase, expressão dos genes osciladores (Clock, Bmal1, Cry1, Cry2, Per1, Per2, Rev-erba, Ror) e de genes controlados pelo relógio relacionado ao controle glicídico, lipídico e mitocondrial nos tecidos periféricos, em estudos com animais e com seres humanos. Conclui-se que a alteração de horários de alimentação desalinhado com a fase ativa promove a modificação dos padrões de expressão gênica circadiana e dessincronização metabólica periférica favorecendo o estresse oxidativo, resistência à ação da insulina, dislipidemia e predispõe a instalação de DCNTs.