Evolução no nicho isotópico e potenciais mudanças morfométricas em quatro espécies de aves da Caatinga nas últimas seis décadas

Abstract

As mudanças climáticas e as pressões antrópicas representam as maiores ameaças à biodiversidade global. Essas mudanças agem alterando a temperatura e os níveis de pluviosidade, modificando biomas e afetando a diversidade e disponibilidade de recursos. Projeções apontam a Caatinga como um dos ambientes que sofrerão estas mudanças de forma mais dramática, com secas mais longas e intensas. Para avaliar se as mudanças climáticas ocorridas na Caatinga afetaram a biodiversidade, investigamos potenciais mudanças no nicho isotópico e na morfologia de quatro espécies de aves nos últimos 65 anos. Para isso, utilizamos espécimes de quatro espécies de aves (Myrmorchilus strigilatus, Hemitriccus margaritaceiventer, Cyanoloxia brissonii e Coryphospingus pileatus) de coleções zoológicas coletadas desde 1951 até o presente, para avaliar potenciais mudanças morfométricas e de nicho isotópico. Para avaliar mudanças morfométricas, usamos seis medidas do corpo das aves, incluindo três medidas do bico (altura, largura e altura do bico), três medidas do corpo (comprimento da asa, cauda e tarso) de 216 espécimes das quatro espécies-alvo. Para avaliar mudanças no nicho isotópico, amostramos penas de espécimes para obtenção dos valores isotópicos de carbono (δ¹³C) e nitrogênio (δ¹⁵N), empregados no modelo de nicho, utilizando 120 espécimes das mesmas quatro espécies de aves. Em relação à morfometria, detectamos mudanças significativas na cauda e no tarso de Cyanoloxia brissonii e no bico de Myrmorchilus strigilatus. Em relação aos nichos isotópicos, três espécies apresentaram variação na largura do nicho nas últimas décadas, com espécies granívoras e insetívoras mostrando diferentes padrões ao longo do tempo, aumentando a sobreposição de nicho entre os grupos históricos e modernos. As diferenças interespecíficas nas respostas podem apontar potenciais adaptações às pressões antrópicas, assim como as poucas mudanças morfológicas registradas podem indicar outras possíveis respostas das espécies frente às crescentes alterações no clima da Caatinga.